A vitória de António Costa nas primárias do PS representou a vitória do revanchismo do que há de pior nos partidos políticos em desfavor das propostas de abertura à sociedade civil, da reforma profunda do sistema partidário avançadas por António José Seguro.
Não são necessárias grandes análises nem sequer a compilação de muitas variáveis para se entender o porquê desta derrota apesar de começar a ser senso comum de que, com o sistema partidário tal qual está, dificilmente o país caminhará no sentido do progresso, da convergência com a Europa, no caminho da modernidade.
Na verdade António José Seguro teve dois anos para reformar o PS, para apresentar a Passos Coelho propostas de reforma do sistema político que muito provavelmente teriam eco no PSD e só quando a corda começou a apertar-lhe o pescoço, imprevisivelmente puxada por António Costa, decidiu, à ultima hora, um pouco em cima do joelho, tentar fazer o que não fez em todo o tempo que já levava de mandato. Muito provavelmente se o tivesse feito com coerência e competência não só não teria perdido para António Costa como previsivelmente seria hoje o Primeiro Ministro de Portugal e tenho para mim que o país estaria melhor servido.
Os políticos deveriam aprender com o povo e seguir os seus ditados na maioria das vezes fruto do bom senso coletivo. Diz o povo que quando vires as barbas do vizinho a arder deves pôr as tuas de molho. Foi isso que não fez Pedro Passos Coelho e hoje vê-se colocado numa situação semelhante à de António José Seguro e mais uma vez porque no ultimo ano não teve o engenho nem a arte de, em vez de se lamentar da geringonça que o Costa “fabricou” para salvar a pele, dar no PSD a vassourada há muito necessária e que o mais elementar bom senso vê que acontecerá mais cedo ou mais tarde, a bem ou a mal, sendo que se for a mal o mais provável é que desemboque noutra geringonça interna e não num PSD social democrata, português, das bases, do povo!
A face mais visível, mais que a hipotética candidatura de Rui Rio, da “camisa de onze varas” em que Pedro Passos Coelho se conseguiu enfiar é o panorama da preparação das Autárquicas do próximo ano.
Em junho o coordenador nacional Carlos Carreiras, dizia uma serie de disparates, como por exemplo que os poderes são para ser exercidos (?) esquecendo que foi exatamente o exercício insensato e arrogante desses poderes em situações como a de Sintra, por exemplo, que conduziram ao desastre de 2013, em que pela 1ª vez o PSD perdeu a maioria nacional e como consequência a presidência da Associação Nacional de Municípios.
Dizia ainda Carlos Carreiras, que candidato que se fizesse anunciar antes de outubro seria um não candidato pois teria o veto da Comissão Política Nacional, mais uma vez numa atitude arrogante e completamente ao arrepio da tradição do PSD, partido onde as bases sempre tiveram a ultima palavra.
Passou o verão, passou outubro, passou o Natal e Carlos Carreiras e a CPN tiveram a resposta que mereciam! Não só não foi anunciado nenhum candidato, como, nos concelhos mediáticos não há candidato para anunciar.
Chegam-me ecos que finalmente resolveram arrepiar caminho. Que o PSD vai apoiar a candidatura independente de Marco Almeida em Sintra e que estuda situações semelhantes noutros locais do pais. Fala-se ainda numa candidatura forte a Lisboa, esperando eu que o mesmo aconteça no Porto e em Gaia.
São boas noticias na medida em que representem uma seria vontade de mudar o que tem sido a atuação política do PSD nos últimos tempos, um partido controlado pelo aparelho, zangado com a vida e consigo próprio, onde não há debate interno e onde as bases deixaram claramente de estar em sintonia com quem as representa nos órgãos de direção política.
Esperemos também, que esta mudança, a existir e a ser genuína, ainda venha a tempo de mobilizar vontades e construir candidaturas vencedoras, pois serão os concelhos e o país que sairão a ganhar.