Um político assume-se. Foi assim que Mário Soares se definiu no seu ensaio autobiográfico político. Soares que depois de ter sido Presidente da República ainda liderou uma lista do PS ao Parlamento Europeu e recandidatou-se a um novo mandato presidencial. Sempre de cara levantada, lutando pelas suas convicções com coragem e sem medo.
Foi isso que Assunção Cristas fez ao decidir candidatar-se a Lisboa. Assumiu as suas responsabilidades e mostrou coragem.
Agora, e perante o actual momento político, não resta outra alternativa a Pedro Passos Coelho senão avançar também com a sua candidatura à Câmara Municipal de Lisboa enfrentando Fernando Medina. Numa eleição que Passos Coelho até beneficiaria ainda do facto de parecer estar afastada uma coligação de esquerda na capital.
E com este seu exemplo Passos poderá exigir a todos os militantes, sem excepção, que deem a cara pelo PSD, nas próximas autárquicas, do Minho ao Algarve, passando pelos Açores e pela Madeira, nomeadamente aqueles que estão sempre disponíveis para integrar os governos e as administrações das empresas públicas, mas que não gostam de “sujar os sapatos” nas eleições locais. Esta seria uma excelente oportunidade para – nós e eles – ficarmos a saber quantos votos valem os “barões e as baronesas” sociais-democratas.
Foi assim que fez Jorge Sampaio. Em 1989, dois anos após a primeira maioria absoluta de Cavaco Silva, avançou com a sua candidatura a Lisboa derrotando Marcelo Rebelo de Sousa.
Sampaio reconquistou a autarquia da capital que estava há 10 anos nas mãos de Nuno Krus Abecasis. A partir desta vitória o PS começou a construir um caminho que levou em 1995 o Partido Socialista ao poder com António Guterres e que no ano seguinte elegeu o próprio Jorge Sampaio como Presidente da República.
A candidatura de Passos Coelho à Câmara de Lisboa permitiria ao líder do PSD descolar de uma entourage que o acompanhou nestes últimos anos mas que não deixou saudades no País. Mas também separar as águas em relação ao CDS e a Assunção Cristas. Esta poderia ser uma reencarnação de Passos Coelho que poderia assim voltar a mobilizar os militantes do partido e afastar os crónicos e putativos candidatos da corrida à liderança no próximo Congresso do PSD. Este avanço forçaria Maria Luís Albuquerque, Rui Rio, Morais Sarmento, Paulo Rangel, Luís Montenegro, Pedro Duarte, José Eduardo Martins ou Pedro Rodrigues a irem a votos nas próximas Autárquicas.
Na política, como na vida, às vezes é necessário dar um passo atrás para depois dar dois passos em frente. Esta seria uma forma de Passos Coelho iniciar uma nova fase política na sua vida descolando da imagem que deixou no último ano apresentando um novo discurso e novas ideias para Lisboa e para o País. Mostrava também desassombramento e coragem. Algo que os cidadãos apreciam nos políticos e que Sá Carneiro deixou bem vincado numa frase que ficou célebre “a política sem risco é uma chatice”.
Esta será uma opção arriscada, sem dúvida que sim, mas será a única forma de Passos Coelho se poder reinventar para se reabilitar politicamente.