A crise de afetividade de nossos dias é raiz , matriz geradora de boa parte dos conflitos afetivos de nosso tempo. Especialmente fomentando o egoísmo, dificuldade de comunicação, isolamento, agressividade, competição, falta de respeito, a critica exagerada, impaciência, irritabilidade a agressão entre as pessoas. O absurdo de Camus hoje é revivenciado nas histórias do amor. Mas quem quer amar?
Hoje em meu consultório e no de vários colegas é comum se ouvir histórias de crise de relacionamento: Primeiro é que transformamos na pós modernidade o amor em objeto produto de mercado onde coisas e pessoas viraram mercadoria. O segundo aspecto é a crise da ternura, do sensível do romance da suavidade e da delicadeza , ao qual vou me ater neste ensaio. Amor é cuidado, zelo, carinho, respeito vontade de estar junto de querer ver o outro bem e fazer bem a pessoa com quem estamos.
A ternura é a base constitutiva do envolvimento a dois. é o que nos traz a dignidade do humano, o melhor que podemos ser e oferecer, é a base para nossa individuação. O amor constitutivamente suaviza o espírito, enlaça reflete o que podemos ter de melhor miticamente é o canto de Orpheu que por amor apazigua as feras, deuses, e monstros que se prostram diante da magnitude do belo. O canto que ao cantar encanta por que vem do coração.
Este belo na pós modernidade se perdeu, é criticado, espezinhado, ridicularizado por que na atualidade o amor tornou se disputa de poder , controle, prevalecendo a vaidade, o orgulho que se reproduz no isolamento na solidão e na dissolução dos vínculos. Amor e controle são incompatíveis…e pobre do ser que racionalizar seu amor. C. G. Jung dizia que o amor é sombra do poder e vice versa onde existe um não há espaço para o outro. Certeiro e cruel na sina da desventura de nossa atualidade.
Afeto milícia do pranto da eternidade que se consola com o sorriso divino. O elementar colapso da razão que se dá quando toda forma de controle se perde:”seu afeto me afetou é fato” canta o Teatro Mágico. Afeto é palavra tão dita, repetida mas tão pouco compreendida o abissal insondável da psique humana, com razão e vontade própria…”não existe razão nas coisas do coração” postulava o apóstolo Paulo recantado por Renato Russo. Mas a onipotência do ser humano na pós modernidade, o imponderamento, a resiliência, a belicosidade, discursos pré fabricados a serviço de um mercado da insatisfação produtor de ilusões, hoje tão propalado retira do individuo sua ternura, suavidade, graça, leveza o preparando para uma guerra interna contra os próprios
sentimentos, contra a entrega, a paixão, o romantismo com o que poderia ser bom. Posteriormente a guerra estende se a quem está ao lado, ao
parceiro ao romance…e a vida torna se árida, seca vazia…
O produto direto deste cenário é uma legião de pessoas frustradas, arrebentadas afetivamente, duras e críticas, solitárias, depressivas, amarguradas, um ótimo perfil para um mercado consumidor que se alimenta dos modismos…pessoas satisfeitas bem resolvidas não consomem. O desamor neo liberal.
O que você tem feito de sua ternura, docilidade e carinho?