“Eles não sabem, nem sonham, que o sonho comanda a vida, que sempre que um homem sonha o mundo pula e avança como bola colorida entre as mãos de uma criança.” António Gedeão
Um dia, António Costa sonhou ser Primeiro Ministro. No caminho, apesar de algumas vezes tortuoso e pouco ético, conseguiu criar dinâmicas que alteraram definitivamente a forma de fazer política em Portugal. Nem sempre os caminhos da mudança são retilíneos, mas, ao contrário do que pensam os conservadores de esquerda ou direita (são tão iguais nos seus preconceitos e prática), o saldo é sempre positivo. Não se deve e felizmente não se consegue travar o progresso.
Uma dessas dinâmicas de relevo, foram as eleições primárias abertas a simpatizantes para escolha dos lideres partidários. É óbvio que PC e Bloco serão os últimos a lá chegar. Já quanto aos outros, apesar das resistências dos “donos” da estrutura, muito rapidamente sentirão a necessidade de as adotar.
Outra dinâmica que está na ordem do dia, é o aparecimento de candidaturas independentes às eleições autárquicas, a que os partidos, se não quiserem perder o “comboio”, terão que responder com a abertura das suas listas a “não alinhados” mas com currículo e ou atividade cívica de relevo para justificar a escolha.
Esperar que neste processo, essas pessoas, aceitem servir de maquilhagem a uma lista de “cromos” tirados diretamente das estruturas partidárias, ou de eminências pardas altamente comprometidas com o passado, é o mesmo que sonhar alto ou acreditar no Pai Natal, e também uma ofensiva falta de reconhecimento da inteligência e bom senso dessas pessoas.
Quem não precisa da política só aceita “sujar as mãos” por um projeto que valha a pena e garanta uma equipa capaz de o executar.
Como justificar ter andado 40 anos a acusar a esquerda de se fechar sobre si própria, e agora que, com a dinâmica criada pela geringonça” elas, as pessoas de esquerda, comecem a construir pontes, e sejam os partidos do chamado “arco do poder” a construir muros?
Por minha parte, com as responsabilidades exigidas por 40 anos de militância partidária, tenho a consciência tranquila, pois, quer no concelho onde resido, quer em Coimbra, onde vivi mais de 30 anos, fiz tudo o que a minha pouca importância permitiu, para que quem decide perceba que o caminho é, como aliás me ensinou Francisco Sá Carneiro, pensar primeiro nas pessoas, nas suas necessidades e legitimas aspirações, e só depois, muito depois, nas contabilidades partidárias, ou nas circunstancias pessoais dos dirigentes ou candidatos.
Num sitio e no outro acabei a falar sozinho. Não queria, de todo, que mais uma vez acontecesse o que é normal em política: – Não se pode ter razão antes do tempo – mas temo, não tanto pelo partido, mas mais pelas pessoas, suas necessidades e legitimas aspirações, que o tempo, neste caso, mais propriamente a noite do próximo dia 1 de Outubro, me venha dar razão.
Américo Coutinho