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SNS – Um país de loucos ou a historia trágica de um Centro de Saúde

PRIMEIRO ATO | A minha mãe, 84 anos, tem tendência para desenvolver ulceras varicosas. A ultima agravou-se ao ponto de ter que consultar o medico de família no Centro de Saúde de Miranda do Corvo, que prescreveu penso bissemanal.

A minha mãe, apesar da idade, da mobilidade reduzida, de viver cerca de 8 km do Centro de Saúde e de auferir uma pensão de reforma inferior a 300 euros/mes, não teve direito a ser tratada no domicilio e teve que se dirigir ao Centro de Saúde, duas vezes por semana, a expensas próprias (15€/viagem de táxi).

Ao fim de um mês de tratamento as feridas apenas tinham piorado apresentando até um cheiro desagradável, sem que por parte da “equipa de saúde” fosse tomada qualquer iniciativa alternativa.

A alternativa, face ao agravar da situação clínica, foi consultar um especialista privado, que prescreveu penso DIÁRIO, feito de forma diversa (usar apenas “betadine” em vez das pomadas/cremes anteriormente usados, por exemplo).

Obviamente que o tratamento teria que ser feito no Centro de Saúde que manifestou impossibilidade prática (apesar da minha reclamação) de o fazer no domicilio, por falta de recursos (!), apesar da evidente dificuldade física, alem da material, da doente se deslocar ao Centro de Saúde.

Mais uma vez a minha mãe teve que se “arrastar” e pagar as deslocações até ao Centro de Saúde.

Felizmente o problema resolveu-se em duas semanas.

SEGUNDO ATO| Em 14 de Dezembro pp dirigi à ARS Centro, com conhecimento da Direção Geral de Saúde e do Gabinete dos Sr. Secretario de Estado da Saúde a seguinte reclamação:

Exmos Senhores:

Qualquer pessoa minimamente atenta deu conta da insistente campanha da DGS para a vacina da gripe. Essa campanha ocorre desde o inicio de outubro e insiste que um dos grupos de risco são os idosos.
Os meus pais vivem numa aldeia, São Gens,  a cerca de 7/8 km de Miranda do Corvo, ambos com dificuldades de mobilidade, devido à idade, 88 e 84 anos.

No passado mês de novembro a minha mãe, aproveitando uma ida a Miranda passou pelo Centro de Saúde onde foi vacinada pela “enfermeira de família” a quem questionou se não poderiam vacinar o meu pai de 88 anos no domicilio pois tinha muita dificuldade em deslocar-se ao Centro de Saúde.
Foi-lhe respondido que sim, era possível, que não seriam no dia seguinte, mas passariam.

Entretanto uma enfermeira do mesmo Centro de Saúde foi a São Gens vacinar uma outra doente, também idosa e também com mobilidade reduzida, que lhe disse que o meu pai também estava para vacinar. Respondeu que não o podia fazer porque pertencia a outra equipa!

Como estamos a meio e Dezembro e o meu pai continuava sem ser vacinado, dirigi-me hoje (14/12/2017) por volta das 15:30 com ele ao Centro de Saúde para ser vacinado, tendo questionado os serviços.

A primeira resposta, foi a de que não estava de momento ninguém responsável, e perante a minha insistência puseram-me a falar com a psicóloga, responsável pelo gabinete do utente que depois chamou a “enfermeira de família” dos meus pais! Da conversa amistosa fiquei a saber que:

1. Nem a médica responsável pelo Centro de Saúde nem o Enfermeiro Chefe estavam presentes porque estavam a gozar a sua folga.

2. A vacinação da gripe foi integrada no trabalho domiciliário normal (sem planeamento especifico) e que cada enfermeira (são 6 no centro) tem um ficheiro de doentes e é responsável pelo tratamento, domiciliário ou não, desses doentes. Daqui resulta que se, no limite, na aldeia mais distante existirem 6 idosos acamados, mas cada um deles esteja atribuído a um médico/enfermeira diferentes, são feitas 6 viagens à aldeia só para fazer a vacina da gripe!!! Mas passa-se o mesmo se todos eles precisarem de penso ou lhes forem receitados injetáveis!!!

3. O nome do meu pai estava na “lista de espera” e ainda não houve disponibilidade!

4. A justificação para esta atuação, que qualquer pessoa com um neurónio a funcionar tem de considerar insana, são aos procedimentos, pelo que me disse a Sra. Dra. Enfermeira, definidos superiormente, ao nível da ARS, ou mesmo do ministério!

5. É neste mesmo Centro de Saúde que médicos não prescrevem penso diário, apesar de segundo opinião de médicos especialistas serem clinicamente necessários, porque não têm recursos humanos para os fazer (…e depois os tratamentos eternizam-se por meses ou até anos).

6. Se os ditos procedimentos constituem balizas absolutamente estanques, deve questionar-se a razão da existência dos cargos de Medica Coordenadora ou Enfermeiro Chefe. Ler os procedimentos toda a gente deve saber!

Porque na verdade é possível fazer melhor com menos, assim as nomeações para os cargos de chefia tenham por parâmetro fundamental o mérito e as pessoas passem a assumir com brio profissional as suas responsabilidades, pois escudar-se nos procedimentos é próprio dos incompetentes,  agradeço a melhor atenção para este caso, uma vez que a razão da existência do Ministério da Saúde é unicamente zelar pela saúde dos portugueses, devendo usar de forma criteriosa os poucos recursos financeiros disponíveis.

Respeitosos cumprimentos,

A resposta, depois de um telefonema de um responsável da ARS Centro, que disse acreditar que a “organização” do serviço descrita, não acontece em muitos Centros de Saúde e se comprometeu a chamar à atenção dos coordenadores do Centro de Saúde de Miranda do Corvo para a necessidade de promover as necessárias mudanças, é de ir às lágrimas e não merece comentários.

É o país que temos!


NOTAS FINAIS | Quem será o autor da “reforma dos cuidados de Saúde Primários”?  DEUS? Esperemos que Ele ouça as minhas preces a bem dos utentes!

Se a 14 de Dezembro o prazo ainda não estava ultrapassado, porque o meu pai “não obedecia aos critérios” e como tal podia deslocar-se ao Centro de Saúde , talvez seja altura de questionar os “critérios”,  pois o meu pai faleceu a 28!

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