O congresso do PSD é o local e o momento de excelência para todos (sem exceção) deixarem bem claras as suas posições e visões para o partido. É essa a premissa fundamental que me faz estar no 36º congresso do PSD.
Não estou no congresso para fazer parte de qualquer claque (isso já o fiz em muitas ocasiões, iludido pela irreverência da idade e pela ingenuidade da militância de base na JSD). Também não vim para tirar uma selfie para dizer que aqui estive com uns amigos. Vim ao congresso para participar como sempre fiz e sem qualquer pré-reserva de agenda.
A melhor forma de o fazer é manter as questões estruturantes que coloquei, a seu tempo e enquanto membro do conselho nacional, e para as quais não vejo qualquer resposta ou sinal por parte da direção política do meu partido.
É por esse motivo que aqui partilho uma intervenção que considero ainda muito atual:
Intervenção no Conselho Nacional do PSD
Lisboa, 20 de Outubro de 2012
Senhor Presidente da CPN,
Senhor Presidente do CN,
Senhor Presidente do CJN,
Caros Membros dos Orgãos Nacionais,
Caros Companheiros e Companheiras,
Sou social-democrata convicto há mais de 20 anos e acredito que a social-democracia orientada para a justiça social e para a redistribuição de rendimentos é uma via justa, lógica e racional de levarmos o progresso a qualquer sociedade do mundo.
Se estamos em crise, e todos sabemos diagnosticar muito bem como aqui chegamos, é então tempo de fazer a devida redistribuição de rendimentos que passa logicamente por distribuir sacrifícios, que a todos devem afetar na medida das suas capacidades.
Todavia, os passos que estão a ser dados não conduzem a uma verdadeira lógica de esforço nacional e logo a uma sociedade mais justa. Digo-o porque o primeiro elemento deste complexo sistema que deveria dar o exemplo neste mega esforço nacional deveria ser o Estado. Como já vimos, o Estado tem um apetite voraz e não consegue emagrecer aquilo que seria desejável, ao ritmo desejável e na dimensão exemplar que todos esperávamos. Como consequência, quando o produto da economia traduzido nos impostos gerados não é suficiente para alimentar o tal Estado, aumentam-se as cargas fiscais aos Portugueses, gera-se uma depressão económica e entramos num ciclo vicioso gerado por uma droga chamada de austeridade. Menos crescimento, menos impostos gerados e por isso sobem-se as taxas como se de um teorema matemático se tratasse.
A social-democracia não é isto a que assistimos hoje…
O que hoje temos pela frente é um desafio histórico que não pode ser encarado com esta doutrina que esquece a social-democracia, o humanismo e a justiça social. Temo que, se não mudarmos de rumo, nos arrisquemos a dissolver o PSD.
Os que andam sempre com Sá Carneiro na ponta da língua são os primeiros a traírem o seu legado ideológico e a corromperem a imagem do PSD que tão acarinhado foi pelos Portugueses quando era liderado pelos valores e ideais do PPD.
Vim a este CN porque não gosto do que vejo e não vou ficar acomodado à minha situação pessoal perante o colossal deficit de capital político que hoje temos em Portugal. Sim, faltam-nos políticos.
Cada vez estou mais cansado de gente de chavões e anglicismos. De gente que apenas conhece o mundo do Facebook e do Linkedin. Desçam à terra e falem com a alma (se é que a tem). Deixem-se de autismos perfeitamente saloios que já a ninguém convencem. Os modelos econométricos apontam tendências e nunca resultados!
O ar que se respira é pesado. Não pelas manifs ou pelo seu aproveitamento por parte de uma minoria de parasitas. Não, não é por isso. É porque da direita à esquerda está tudo farto. O povo (palavra que alguns tinham até vergonha de empregar) só está a defender a lógica da democracia através da simples afirmação de discordância. Para os que pensam que as eleições legitimam tudo por uma legislatura, enganam-se. Os ciclos políticos são cada vez de menor duração, e dependem substancialmente de fatores exógenos às governações. Não compreender isto é teimar no erro de não saber que o Povo é soberano.
Continuo a confirmar também que, à volta dos nossos decisores políticos, gravita muita gente que não aporta valor e que não tem sensibilidade política alguma. Talvez por isso se compreenda o fracasso da política de comunicação do Governo.
Também é verdade, por outro lado (o do exterior), que seria muito bom termos uma UE emancipada e não apenas instrumental. Sobretudo para pôr as peças no seu devido lugar. Falta uma visão europeia que nos aproxime de um modelo de desenvolvimento económico único… A coesão não se faz pela imposição de denominadores comuns mas sim pela reunião das sinergias entre os Estados, potenciando o que de melhor cada um tem para oferecer. Ainda esta semana assistimos a declarações políticas do congresso do PPE que são verdadeiras declarações de fracasso político da UE.
A política de austeridade cega, feita por não-políticos, envolta em contestação social, inspirada em modelos franco-alemães que em nada se assemelham à realidade económica portuguesa e que apenas estão a eliminar, um por um, cada um dos agentes económicos, apenas nos conduzirá ao pior momento da nossa história de quase 900 anos.
Chamar os Portugueses ao desafio da nossa história passa por falar claro e mobilizar a Nação para ganhar de uma vez a sua autonomia financeira. Desde a fundação de Portugal (1143) tivemos sempre dependência externa… Conquistas, Colónias, Fundos de Coesão e intervenções do FMI. Em que períodos destes “quase” 900 anos vivemos apenas com aquilo que gera a produção interna? Deixo para reflexão.
Pensemos no que queremos para 2020, 2030 e para as próximas décadas. Chegaremos a algumas conclusões do que poderemos ter e não do que gostaríamos de ter. Geraremos saldo orçamental positivo se formos sérios e se recortarmos de uma vez nas gorduras excessivas que matam qualquer organismo. O nosso colesterol há muito que rompeu os limites de uma vida saudável e sem nos apercebermos já passamos por algumas dezenas de micro-AVC’s.
Termino como comecei: sou social-democrata. Mas acima de tudo sou Português, tenho família e amo a minha terra.