Durante anos fui contra a adopção de crianças por casais homossexuais.
Duplamente homofóbica, fazia-me mais confusão a adopção por um casal masculino do que por um casal feminino. Talvez porque se tenha sempre presente a figura maternal e não choque tanto.
Usei todos os fundamentos para defender este paradigma:
. As crianças necessitavam ter referências femininas e referências masculinas;
. A Natureza é assim mesmo. A reprodução humana é realizada entre um Homem e uma Mulher;
. Porquê aceitarmos algo que seria contra-natura e, possivelmente, nada saudável para o desenvolvimento/crescimento saudável de uma criança?
Até que um dia………
Até que um dia comecei a colaborar numa Comissão de Protecção de Menores, algo que durou praticamente 6 anos.
Lidei com imensas crianças institucionalizadas.
São milhares, entregues a diversas instituições espalhadas pelo país.
São bem tratadas? Na generalidade até o são. Noutras não.
São amadas?
Não. Não são amadas!
Por muito que os Técnicos dessas instituições tenham um comportamento correcto e se preocupem com o bem-estar das “suas” crianças, os seus filhos – a quem amam verdadeiramente, como é natural – estão em casa e não ali.
É normal. É humano.
As crianças institucionalizadas são filhos de outras pessoas.
Pessoas essas que, sendo os seus Pais biológicos, deveriam ser os primeiros a cuidar, a zelar pelos seus interesses e amá-los acima de tudo.
Mas não é assim. Os abusos e os maus-tratos cometidos contra estas crianças começam precisamente entre as “quatro paredes” do que denominam de “família”.
De tal forma que, muitos deles, têm de ser retirados e entregues ao Estado.
As crianças institucionalizadas sentem-se abandonadas por todos. O seu “mundo” desabou. São “desamadas” por todos.
O que mais desejam – e é quase sempre o que mais pedem ao Pai Natal como presente – é terem quem os ame, quem cuide deles, quem os proteja, quem lhes proporcione um ambiente de verdadeira Família.
A maior ambição destas crianças (tenham a idade que tiverem), é saírem da respectiva instituição a que foram entregues.
E foi perante esta realidade que comecei a mudar de opinião.
Afinal as minhas premissas não estavam assim tão bem fundamentadas como sempre pensei.
Dei-me conta de que existiam casais homossexuais a quererem adoptar crianças com os mesmos objectivos que os casais heterossexuais.
O intuito é precisamente o mesmo: poder amar alguém, cuidar, zelar, proporcionar um ambiente de carinho, ternura e uma Família.
Vi Pais e Mães homossexuais com os mesmos receios e ansiedades que os Pais e Mães heterossexuais: “O meu filho adoptivo vai gostar de mim?”; “Eu vou saber cuidar dele?”; “Vou saber educá-lo?”; “Vou dar-lhe o amor suficiente?”
Cheguei à simples conclusão que não existem pais homossexuais ou pais heterossexuais.
Apenas existem Mães e Pais!
E, as crianças, nem ligam a isso. Psicologicamente está provado que crianças adoptadas por casais homossexuais não se tornam, por sua vez, em homossexuais. E, nos casais heterossexuais, acontece precisamente o mesmo.
Continuam a existir referências naturais na Família alargada.
Quem é contra este tipo de adopção, fala muito no “interesse superior da criança”.
E o que é o “interesse superior da criança”?
É o viverem como anónimos e invisíveis, sem amor, numa instituição? Ou é terem uma Família que os ame?
O maximum relativamente a este tema, surgiu numa conversa com um destes garotos. Tinha cerca de 10/11 anos e estava em causa a sua adopção por um casal homossexual. Com o seu pragmatismo natural de criança, ainda despida de preconceitos, perguntou-me:
“E qual é o vosso problema?”
(A autora não utiliza o novo acordo ortográfico.
A foto foi escolhida aleatoriamente na net)