O Brexit pode ter sido o rastilho detonador das reformas que há muito se exigem na UE e que não tem havido coragem de assumir. As fracas lideranças tendem a ser reativas, isto é, só agem quando sentem o rabo apertado. E é um facto que a UE precisa urgentemente de “clonar” a Sra Margaret, o Sr. Delors e o Sr. Helmut para desenrolar o novelo em que se encontra emaranhada.
Quando vemos os países fundadores, reunirem de emergência, na procura de um coelho a sair da cartola, pessoalmente, ao contrario de muitos analistas, não vejo nessa iniciativa assim um “pecado” tão grande, pelos simples facto de não me passar pela cabeça que a ideia seja a criação de uma qualquer elite dirigista tentando impor o “seu” rumo aos restantes parceiros da união. Os dirigentes desses país ainda não demonstraram a sua genialidade, mas não acredito de todo que sejam assim tão burros. Estranho é que paralelamente não tenha havido uma reunião dos países periféricos, por exemplo, de forma a conseguirem-se posições consertadas, alinhadas com os respetivos grupos de interesses.
É muito mais fácil conseguir consensos se os interesses forem semelhantes e muito mais produtivo trabalhar sobre 3 ou 4 posições consensuais do que discutir as coisas a 27.
Não nos podemos esquecer que o gene da fundação da comunidade europeia foi puramente económico, baseada na necessidade da reconstrução de uma Europa destruída pela guerra. E foram os avanços na integração económica que deram lugar há integração política, mais visível na livre circulação de pessoas no espaço europeu. Temos por isso, o que alguns já chamam de federalismo “híbrido” pois conseguimos construir uma moeda única, mas estamos muito longe de um governo único.
Outra das principais virtualidades desta união foi conseguir um largo período de paz na Europa, isto também consequência da concertação dos interesses económicos, a causa primeira de todas as guerras.
A crise atual, se não provocou uma destruição nem de perto nem de longe semelhante à provocada pela ultima grande guerra o certo é que fez tremer o tecido produtivo da Europa e através dos milhões de desempregados criou tensões sociais e alterações das condições de vida de muitos cidadãos europeus, campo propicio para o germinar de adormecidos nacionalismos e perigosos populismos potenciados por uma geração de lideres europeus de segunda categoria.
É pois tempo de parar e refletir, tempo para ler Adenauer e Schuman, e seguir-lhes o exemplo. Tempo para aprofundar a união económica, dado que a união AINDA faz a força e é pela criação de um espaço de prosperidade económica e de bem estar para os cidadãos que se conseguirão matar o populismo e os nacionalismos de má memória, alguma bem recente. Mais, é a união económica e a prosperidade que arrastarão consigo uma unidade política tão necessária à criação de um bloco democrático e pacifista forte, que consiga contribuir para tornar o Mundo num lugar menos perigoso.
É inaceitável que haja países de um mesmo bloco, pretensamente unido, a ganhar rios de dinheiro à conta das debilidades, algumas geográficas, de países parceiros; mas é igualmente inaceitável que haja países a viver à conta do que lhes emprestaram os parceiros e que queiram continuar a gastar sem regras, favorecendo grupos económicos de interesses que pouco ou nada contribuem para a prosperidade, antes têm muitas vezes uma atuação socialmente parasitária.
Há pois que encontrar uma serie de equilíbrios, de que a união bancária é apenas um pequeno passo, mas que têm que passar, não por cegos procedimentos burocráticos a maioria das vezes contraditórios ou sem nenhum sentido pratico, mas pela criação de regras e mecanismos de controlo transparentes e de aplicação universal.
Torna-se necessário aumentar a cooperação entre os Estados, a solidariedade e as compensações, nomeadamente pelos problemas de descentralidade, terão que ser vistos numa perspetiva do todo europeu e não de mesquinhos interesses nacionais, sendo que, como o futuro rapidamente se vai encarregar de demonstrar, numa Europa forte e prospera todos, pequenos e grandes, só têm a ganhar, é e será SEMPRE preferível estar dentro que fora. Num Mundo global e cada vez mais globalizado e interdependente o isolacionismo só tem desvantagens mesmo para os países que se acham muito grandes. É no entanto imperioso, criar mecanismos de supervisão e controlo, nomeadamente a nível do euro-grupo, eficazes e não burocráticos, que consigam impedir, BPN’s, BES’s, CGD’s, mas também SWAPS ou PPP’s com contratos leoninos como os que foram assinados em Portugal. E não me venham com a treta da soberania, a solidariedade para ser efetiva e aceite terá que ter custos de soberania, eles devem estar claramente definidos e não duvido que os europeus conscientes e informados estarão dispostos a pagá-los a troco de uma Europa onde seja bom viver.