Ao recusar o convite para primeiro Chefe do Estado de Israel, Einstein afirmou: ”Os negócios humanos são demasiado complicados para a minha cabeça”. Este homem, que ficará eternamente imortalizado pelo seu extraordinário génio científico, sendo reconhecido como uma das inteligências mais brilhantes, notáveis e fulgurantes da História da Ciência do séc. XX, soube reconhecer – como só uma personalidade da sua dimensão e elevada espessura intelectual sabe – aquilo que na sua inteligente conclusão se afigurava como óbvio: sentia-se impreparado para as exigências do exercício do poder político, preferindo continuar a fazer, e muito bem, aquilo que ele realmente sabia realizar como poucos: ciência no concreto domínio da Física.
Recuando um pouco mais no tempo, constatamos que o primado da Política nas sociedades ocidentais nasceu do advento da Revolução Francesa, a qual popularizou as palavras “liberté, égalité, e fraternité” – conceitos posteriormente tão abastardados, nomeadamente pelos oportunistas políticos contemporâneos da revolução, por força da sua ignorância, má-fé e inconfessáveis interesses – o que levaria a classe média e a burguesia ao poder, tão ansiosos que estavam de alcançar uma posição política proporcional – senão mesmo superior – sustentada no seu crescente e cavalgante poder económico, face à pouco dinâmica aristocracia rural, nascida para governar, gozar, abusar e pouco ou nada fazer.
Volvidos dois séculos, qual é hoje o estado do “primado da Política”, neste séc. XXI em que o dinheiro – elemento que levou a Burguesia ao Poder – há muito se tornou o “Deus dos tempos globais”? Sem temer errar, creio que o diagnóstico não pode ser outro: os cidadãos, na sua esmagadora maioria, há muito que deixaram de confiar na direita, no centro e na esquerda. Esta elementar constatação, há muito que convive, qual “nódoa negra”, para a qual não há benzina suficientemente activa para a retirar. A crescente perda de confiança nos políticos nacionais (e até europeus) – gente cada vez mais impreparada, culturalmente fracos, politicamente medíocres, frouxos, covardemente impotentes, de dúbia verticalidade moral e ética, face aos ímpetos, exigências e reivindicações dos (seus) ultraliberais “financiadores” e patrões do poder Económico – tem vindo a aumentar eleição, após eleição e, com a entrada e saída dos governos que lhe dão escopo, as suas “insaciáveis ganâncias”, sempre anunciadas e embrulhadas em nome de maior competitividade e produtividade, têm aumentado com uma inqualificável, imprevisível e imparável voracidade.
O assinalável e crescente desencanto, face à generalidade da classe política, exactamente a mesma que, em lugar de adoptar medidas e práticas com vista à sua indispensável e urgente regeneração, prefere gastar o seu tempo – pago com o dinheiro dos contribuintes – em estéreis “conversas da treta” e divagações retóricas de nulo benefício, sobre o domínio da “razão económica”, reafirmando o déjá connu: “…que emerge da sociedade”; “são os cidadãos/eleitores que votam e elegem (estes) políticos” e que é preciso, sem demagogia e/ou populismos fáceis “não confundir algumas árvores com a floresta”: enfim, puro cinismo e impostura saloia de gente viciada em expedientes, que lá no fundo do seu íntimo, sente um indescritível desprezo, fundado na natureza mais fecunda da função política e nada mais; gente que sabe que o povo é manso, dócil e que continua apreciar mais do mesmo, aquilo que já valorizava na Roma antiga: “pão e circo”. Influenciado para a obediência e pela propaganda eloquente e apelativa dos políticos, “habituou-se” a ter de dizer “sim” com a esferográfica, para optar, conforme a onda, pelo mal menor e evitar o caos da “terra queimada” ou “fazendo-se de morto”, optando pela abstenção cínica e covarde, algo condizente com um povo que pensa sobre o que não sabe e raramente diz o que pensa, teimando em achar que “bitaite” é opinião.
Por razões muito diversas e que não cabe aqui abordar, a crise de representação política que há muito se vive em Portugal, consubstanciada em acentuada e crescente rejeição da esmagadora maioria dos políticos, ou em escolhas do “mal menor”, há muito que começa assumir foros de “fractura cívica”, desenvolvida a partir do “insalubre regabofe” de um certo Poder Local – com suporte nas suas “público-privadas ditaduras absolutas” pagas à custa do erário público – que, quer queiram ou não, é hoje quase unanimemente reconhecido como um dos grande artífices e um dos maiores responsáveis – senão mesmo o maior – pelo estado de degradação, decadência e profunda desconfiança em que se move (vive) o nada admirável pântano político nacional, atendendo à imensa influência, peso e poder que muitos “aparelhos locais” possuem na definição dos rumos políticos internos.
Fartos da pública hipocrisia e descarada falta de verticalidade, honestidade e coerência, para não falarmos da reconhecida ausência de seriedade intelectual, tornou-se uma vulgaridade demasiado normal o facto de a quase totalidade dos nossos políticos, que ontem, ora na oposição, ora em eleições, teceram as mais duras e severas críticas às propostas e medidas preconizadas pelo “poder instalado” e que, quando (re) instalados, com pleno gozo da pompa, circunstância, privilégios e sinecuras, agem como se os cidadãos eleitores fossem virtuais, não tivessem memória, fossem todos estúpidos, imbecis, ignorantes: somos obrigados a suportar e a conviver com rapazolas, que se arvoram em únicos donos da verdade absoluta e senhores de uma razão ininteligível para comuns cidadãos – gente a quem depreciativamente o povo chama de “politiqueiros”.
Sucessivos estudos de opinião, produzidos por alguns dos mais qualificados cientistas sociais deste país e com méritos reconhecidos pelos seus pares europeus e americanos, têm apontado para um diagnóstico comum: uma elevada dose de dissimulação existente na actividade política. O “universo” político” é hoje caracterizado e percecionado como exageradamente fingido e marcadamente falso. Há um permanente clima de hipocrisia e falta de sinceridade, completa ausência de valores morais e éticos, desvalorização da lealdade e da honra, tudo desenvolvido e alimentado por políticos – os verdadeiros idiotas inúteis – a quem não se conhece e muito menos reconhece outras competências, que as que supostamente recorrem para o medíocre e permanente exercício da “função política” em “nome do povo” mas que, cada vez mais, se conclui que é muito pouco “pelo povo e para o povo”.
A verdade, é que alguns (muitos) factos – os que ficaram para a História, os que fizeram História e os que foram engolidos pelo zelo histórico da nossa classe política, sempre tão preocupada em reescrever a História – associados às suas pouco elegantes e imorais práticas de fazer política – sempre a bem da sua sobrevivência e do seu poder clientelar – são geradores de mais desconfiança, nomeadamente quando os cidadãos patriotas (?) são confrontados com estudos, relatórios…produzidos por autoridades nacionais e internacionais, independentes e credíveis, que nos revelam aquilo que há muito suspeitávamos: entra década e sai década, teimamos em não querer aprender com os melhores e continuamos cada vez mais na mesma ou pior! Excepção óbvia para aqueles que, tão bem, sabem tratar das suas vidinhas: os senhores barões desta partidocracia, seus dinâmicos e influentes gabinetes de produção de leis e os “donos da bola” do poder económico, tão bem comandados pela finança.