Blogue Insónias

A política, a ética, a moral e o futuro.

“Para a política o homem é um meio; para a moral é um fim. A revolução do futuro será o triunfo da moral sobre a política.”

A revolução do futuro de que nos falava Ernest Renan, no século XIX, ainda não aconteceu.

E não se vislumbra que possa acontecer nos próximos anos.

Hoje vivemos numa sociedade capitalista dominada pelo poder, pelo dinheiro e minada pela corrupção.

No final do século XIX Ramalho Ortigão escreveu que o “país, concordando inteiramente com as nossas opiniões sobre a ignorância geral e sobre os falsos meios que até hoje têm sido empregados para organizar o ensino, exproba às Farpas o desprezo em que elas têm sempre tido os problemas governativos, contribuindo assim para manter no público a indiferença política que a referida folha considera a principal causa da corrupção portuguesa.”

Por sua vez, em pleno século XXI, podemos falar de um “comodismo nacional” que alimenta o “establishment” que apenas pretende que tudo continue na mesma.

O livre pensamento tem um preço elevado, por isso, muitos optaram confortavelmente por um silêncio cúmplice que vão pagar caro no futuro.

Um silêncio permissivo que abriu uma autoestrada para o avanço de uma crise de representação política que escancarou a porta à demagogia, ao populismo e à corrupção que Agustina Bessa-Luís teve a ousadia de descrever como o “alimento do poder que a provoca e trata”.

Um silêncio cúmplice que permitiu que a competência, o mérito e o rigor fossem substituídos por uma mediocridade crescente que tomou os directórios partidários e consequentemente a administração pública.

Houve tempos em que uma anedota fez cair um político, agora vivemos um tempo em que alguns políticos se tornaram verdadeiras anedotas.

Nos últimos anos tive uma intervenção pública que teve o enfoque na luta pela verdade e pela moralização da vida política e pública contra uma corrupção generalizada que, dia após dia, tem minado a democracia.

Hoje mais importante que todas as revoluções tecnológicas é a “revolução do futuro” de que nos fala Ernest Renan.

Não desisti, continuo a acreditar que um dia a política possa ser orientada por valores supremos como são a ética e a moral, porém decidi interromper um ciclo de intervenção pública para dar lugar a um período de reflexão que exige um distanciamento das redes sociais devoradoras que enfermam da necessidade de um imediatismo fruto do que resta do triste espectáculo em que se tornou a política.

Não posso terminar sem agradecer a todos os que acompanharam, ao longo dos últimos anos, o que fui escrevendo. Concordando ou discordando, a todos estou grato pelo seu contributo para o debate democrático.

Paulo Vieira da Silva

Gestor de Empresas / Licenciado em Ciências Sociais – área de Sociologia

(Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico)

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