Escrevo este texto antes do início do XXXVI Congresso Nacional do PSD.
Muito já se escreveu sobre o tema, mas muito mais se escreverá, ainda, à míngua de notícias relevantes.
Este será o congresso da suposta entronização…de um moribundo.
De um homem só. Cada vez mais só…
Se há quem alegue que o exercício do poder é solitário, tal máxima nem aqui se adapta…Passos Coelho perdeu o poder por sua inteira culpa e se, como gosta de alegar, cresceu para a Política dentro do PSD, se tivesse conservado a memória, saberia que o PSD é e sempre foi, uma máquina de triturar lideres. Acresce ainda que há no PSD uma máxima que continua em vigor… um líder deve deixar-se queimar até ao fim…
Passos Coelho será traído, tal como César o foi por Brutus, o que o levou a proferir a conhecida máxima “Tu quoque Brute?”…
E o conluio já se iniciou…
Na ausência de alguém que profira, alto e bom som, “O rei vai nu…”, assistir-se-ão às habituais palmadas nas costas, aos sorrisos de circunstância, aos lugares distribuídos com parcimónia, até porque, sendo o PSD o partido português que mais tempo esteve no Poder desde o 25 de Abril o que também o responsabiliza, seriamente, pelo muito que de errado foi feito desde então, criou, em simultâneo e em consequência, uma Cultura de Poder, com as habituais tribos dele dependentes e com as sempre borbulhantes teias de interesses que se interconectam e que só sobrevivem à custa do mesmo. Longe do Poder gera-se uma histeria coletiva, na procura ávida daquele que defenda não as ideias, não os princípios, não as políticas, não os projetos, mas tão só e apenas, de modo nu e cru, que garanta a forma mais rápida do regresso ao mesmo. Os interesses e as suas dependências não sobrevivem muito tempo longe do Poder e há, ainda, imensas faturas a pagar, resultantes dos milhares de promessas efetuadas durante a última campanha eleitoral.
Hoje, como ontem, quando um líder se encontra em queda, logo os jovens turcos se apressam, não em avançar com programas e alternativas…mas tão só em dar prova de vida e, preteritamente, posicionarem-se para a próxima corrida pairando, por agora, sobre o conclave. Sempre aconteceu, nas crises de liderança e esta também não será exceção. E assim se assistiu, durante esta longa semana, às entrevistas encomendadas à medida das circunstâncias, de Rui Rio, de Morais Sarmento e do novel Pedro Duarte, regressado do exílio dourado “microsoftiano” e, pelo que se verifica, perene de saudade…
Mas regressemos ao “leitmotiv” desta crónica.
A anunciada e a prazo morte política de Passos Coelho, justa e merecida.
E passo a elencar alguns dos mais gritantes motivos…
Porque PC nunca chegou a ter ou desenhar um programa estruturado, refletido e consistente, para uma década, para os grandes pilares da Sociedade, nomeadamente na Educação, na Saúde, na Justiça e no Estado Social, entre outros. Se houvesse qualquer dúvida desta total ausência de uma política desenhada, sustentada, refletida sobre as grandes áreas da Sociedade, a justa polémica, muito recente, do voto acerca da prisão dos ativistas em Angola, com a desculpa débil e hipócrita de não ingerência na política de outros estados, demonstrou que nem em termos de Política Internacional e muito menos em Direitos Humanos, PC alguma vez teve, sequer, uma ideia sobre o assunto. A ser assim teria sido impossível o voto sobre Timor…Ou o voto sobre Nelson Mandela…Ou tantos outros que o espaço me coíbe de citar. E que foram, legitimamente, apoiados pelo PSD de então. E, até em termos estratégicos, é um erro de “lana caprina”deixar os Direitos Humanos na mão da Esquerda. Um tremendo erro, como a História recente já comprovou. E é um erro grave, porque os Direitos Humanos não podem continuar a estar condicionados por questões ideológicas, tendo que ser transversais a toda a Sociedade! Portugal foi dos primeiros países a abolir a escravatura, assim como foi dos primeiros a proibir a pena de morte. E a verdadeira matriz social democrata tem, também, no seu cerne, profundas preocupações sociais…mas essa é a verdadeira Social Democracia e não este esboço de parca qualidade, da autoria de PC.
Porque ainda que seja inquestionável a necessidade da austeridade na altura e nas circunstâncias específicas, esta deveria ter sido executada por fases, lenta e progressivamente, com parcimónia gradual, para que não afetasse de modo tão brutal como o fez, a população portuguesa. Acresce que neste ponto os estratos mais débeis da sociedade não poderiam ter sido os mais afetados, só por não terem visibilidade, nem voz…Nem Maquiavel, no “Príncipe”, conseguiu ir tão longe. E deveriam ter sido renegociados os pagamentos com as instituições europeias, como já o afirmei por diversas vezes, se houvesse coragem para assumir posições de força e de exigência nos palcos europeus…Pagar, obvia e impreterivelmente, mas com conta, peso e medida…à velocidade que o País conseguisse.
Porque se rodeou de uma equipa de “yes men and women”, de qualidade muito duvidosa, sem experiência governativa, sem sensibilidade para as realidades e os dramas sociais e sem capacidade de construir projetos e medidas sustentáveis, aceitáveis e gradativas. Principalmente por falta de conhecimento.
Porque se deixou circundar por uma teia de péssimos assessores e assessoras, maioritariamente vindos dos nichos “joteanos”, ávidos do binómio dinheiro/poder, mas muito parcos na qualidade, défice esse advindo da total ausência de experiência na realidade do mundo laboral, o que se verificou, de modo dramático, em diversos momentos de crise.
Porque se deixou enredar em diversos escândalos dos seus mais próximos, deles não conseguindo ou querendo descolar, chegando ao ponto de a alguns acoitar e defender, até em praça pública…por eles parecendo estar, muitas vezes, manietado. E um verdadeiro Lider nunca se pode deixar ficar refém de interesses. Apenas de valores…como a Ética, a Transparência, a Honestidade, a Dignidade, o Servir e não servir-se…o Bem Estar de Portugal e dos Portugueses!
Porque não se conseguiu ou quis rodear de uma qualificada equipa de Comunicadores, de profissionais de Marketing e de Publicidade que, ao jeito de uma “task force”, fossem refletindo atentamente e passo a passo, sobre o impacto das medidas, uma a uma, no terreno, a sua recetividade pública, as suas consequências na população anónima.
Porque PC a dado momento pareceu perder, ainda mais, a noção do Portugal real, usando e abusando da comodidade da capital e do eixo Lisboa/Bruxelas, com isso perdendo, ainda mais, a dimensão da realidade.
Acima de tudo porque Passos Coelho nunca teve as verdadeiras e necessárias qualidades de um Lider…e isso notou-se na forma dramaticamente descontrolada como decorreu a ultima campanha eleitoral com PC a enveredar por estratégias de qualidade extremamente duvidosa, como o episódio da pagela da santinha tirada oportunamente do bolso das calças para as televisões, afirmando, em conversa com uma idosa, que seria a sua companhia durante toda a campanha eleitoral… Eu sei que as pessoas mudam, crescem, evoluem, mas o Pedro das noitadas e da boémia dos tempos eurovisivos, não se coaduna com o PC da santinha no bolso das calças…e nem vou ousar atrever-me a questionar outras situações porque essas, a verificarem-se, teriam sido demasiado sórdidas e recuso-me, perentoriamente, a acreditar. José Ortega y Gasset referiu, por diversas vezes, “O Homem é as suas circunstâncias”…mas há limites!
Mas como já afirmei e não me canso de o reafirmar, porque o sinto, a questão é, mesmo, de falta de qualidade na liderança. PC ascendeu ao Poder e em consequência ao Governo, não por mérito próprio, mas por demérito do anterior governo associado ao descalabro da situação…e, nessa altura, conseguiu estruturar um discurso de alguma esperança que fez, inevitavelmente, reacender o mito de D.Sebastião…mas rapidamente se percebeu que tinham sido meras palavras…e que foi o homem errado, no momento certo. Recorde-se a recente imagem de PC a chorar a rir, no Parlamento, quando o Ministro das Finanças do atual Governo, Mário Centeno, apresentava o seu programa económico… Um verdadeiro Lider nunca perde a Dignidade, por mais que lhe custe.
Estou totalmente inocente…é público. Nunca votei em Pedro Passos Coelho.
E agora?
Tenho para mim que para alguns lideres se torna difícil conseguir o necessário distanciamento afetivo que permita uma análise fria acerca da sua popularidade e da sua capacidade de se manter na crista da onda. Ou da avaliação de ter chegado a hora de abandonar as luzes da ribalta.
Mas ainda que PC se sinta um Messias ou um injustiçado, não pode esquecer, nem ele, nem a sua suposta corte, que ele é e será, sempre, o rosto da austeridade do governo pafiano.
Todos os que perderam o emprego, as economias em bancos que rebentaram, as casas de família que tiveram que devolver ao banco por não conseguirem pagar os empréstimos, sabem e sofrem, ainda hoje, com a tempestade caótica que se abateu sobre as suas cabeças e a dos seus núcleos familiares. E essa sensação de perda, de revolta, de amargura, de impotência, perdurará por muitos anos…e o rosto que aparece na memória é e será sempre o de Passos Coelho.
Todas essas vítimas da austeridade não esquecem, porque não conseguem e não perdoam porque se sentem violentadas, enganadas, traídas, roubadas…e o agente tem um rosto e um nome…Pedro Passos Coelho.
Tudo isto para provar, racionalmente, que o PSD jamais chegará, de novo, ao Poder, pela mão de PC…e eu creio que os congressistas, os delegados e os observadores, sabem-no, no seu íntimo.
Apenas procuram, ávidos, como acima o afirmei, quem lhes garanta o regresso, para assim poderem ulular, de novo…
“O Rei morreu. Viva o Rei!”.
Manuel Damas