Toda a gente conhece e reconhece que António Costa no que toca à lisura na atuação política não é flor que se cheire, e terá que ser pragmaticamente considerado um político “chico esperto” ao invés de um político inteligente.
Prova disso foi a estrondosa derrota nas ultimas legislativas contra um mais que desgastado Passos Coelho, derrota que conseguiu reverter com uma chico espertice “à lá tuga”. Tivesse o Dr. Costa anunciado previamente a sua disponibilidade para “construir” a geringonça e muito provavelmente os resultados teriam sido diferentes.
Isto é uma narrativa dificilmente contestável e o único erro do PSD, foi, além de manter na liderança um Passos que ao longo do seu mandato cometeu erros de mais, os suficientes para não conseguir uma maioria para formar governo, centrar toda a sua estratégia nesta narrativa como se não conseguisse sair dela.
Perante uma “chico espertice” é necessário denunciá-la para dela retirar os proventos políticos mas logo a seguir partir para a construção de uma alternativa credível, uma alternativa que terá obrigatoriamente de conseguir uma maioria para formar governo e isso não se consegue de todo “chorando sobre o leite derramado”.
O pós autárquicas e a copiosa derrota do maior partido português, ainda por cima quando, durante décadas, teve a sua implantação na sociedade portuguesa traduzida, justamente, no poder autárquico, fizeram acordar o “gigante” da letargia que ameaçava transformar-se em coma e, depois de umas disputadas diretas internas, elegeu o óbvio, uma equipa mas sobretudo um programa de redefinição ideológica que o coloca de novo em sintonia com os seus eleitores.
E aqui entra novamente a “chico espertice” e a falta de lisura de António Costa.
São normais as reações de mau perder dos “direitolas” do PSD, até porque, conscientes da sua falta de mérito elas são sobretudo o “espernear” pela sobrevivência.
Ninguém de bom senso esperaria que Rui Rio tivesse uma varinha e, de um momento para o outro, mudasse, num passe de mágica, radicalmente o “soundbite” do partido. O caminho faz-se caminhando e é errando e aprendendo com os erros que se constroem as grandes soluções.
Haja abertura para o debate e para acolher as melhores ideias e Rui Rio ao definir as linhas gerais da estrutura de debate a que chamou Conselho Estratégico Nacional deu indicações claras do que quer.
Juntando a experiência e o nome de personalidades reconhecidas da área do PSD (e não são miúdos, naturalmente) para coordenar e alinhavar o brainstorming que se pretende criar em torno das possíveis propostas do PSD para os problemas do país, à dinâmica e saber de jovens ambiciosos dispostos a “dar a cara”, parece uma solução sensata e inovadora.
Obviamente que nem António Costa, nem o PS gostaram desta mudança estratégica do PSD, mas o certo é que emudeceram. Ninguém ouve dos dirigentes do PS, Costa incluído, um ataque a Rui Rio ou ao PSD. Estranhamente, ou não, até os “compagnons de route” do governo têm , olímpicamente, ignorado Rui Rio.
Quer isto dizer que Rio não tem oposição e está em “estado de graça”? Incrivelmente não, pois as segundas linhas da geringonça mobilizaram uma seita de marretas, na sua maioria da área do PSD, que vão desde ex-lideres, passando por ex-militantes a simpatizantes, mas com a azia como linha de união.
Uns zangados com o que Rio lhes terá feito no passado, outros porque não digeriram a opção das bases do PSD nas diretas, outros ainda porque se julgam a “ultima bolacha do pacote” e Rio não lhes passou “cavaco”, é vê-los todos os dias, se não todas as horas numa marcação cerrada a Rui Rio e à nova direção. Chega mesmo a ser divertido, pois se Rio escolhe um novo, é porque não tem experiência nem nome, se escolhe alguém conhecido é porque está de volta ao passado, se se cala não faz oposição, se fala devia estar calado….enfim.
Resta-nos acreditar no ditado popular de que “ só se atiram pedras a árvores com fruto”.
Por mim, gostei da ideia do CEN, não estou preocupado com os nomes dos coordenadores, fico à espera das ideias para criticar, pois muito naturalmente não vou concordar com todas.
….mas isto sou eu que não espero nenhum convite.