O que mais me irritou no Orçamento Do Estado foi o Orçamento de Estado.
Eu chamo-me José Gabriel, muitas vezes chamam-me João Gabriel.
Parece a mesma coisa, mas não é.
O que mais me irritou neste Orçamento Do Estado foi o facto de o próprio ministro lhe chamar João Gabriel.
Os jornalistas, os editores, os comentadores, os especialistas do Facebook, penso que 99% das pessoas chama João Gabriel ao Orçamento Do Estado.
Portanto, a discussão está inquinada, logo à partida.
Outra coisa que me irritou foi o facto de se criticar este ODE por ser de esquerda.
Queriam que fosse de direita?
Discussão ainda mais poluída.
O paradigma mudou. Não se trata de uma geringonça, porque os entendimentos parlamentares à direita nunca foram outra coisa que não governo. Porque é que este governo terá um nome diferente, porque o paradigma alterou-se?
Cada vez mais inquinada, a discussão.
O que me irritou neste ODE foi continuar a assistir a concidadãos, do meu país, dispararem gratuitamente, balas de austeridade, em nome de princípios meramente económicos, como se a economia se fizesse sem pessoas, até mesmo a economia que gere os destinos de cada nação, comandados por jovens sentados à frente de computadores cheios de gráficos que significam manipulação como se não houvesse amanhã.
O que me irritou foi ver a anterior ministra das finanças – com minúscula – sair em defesa dos pensionistas e das pessoas. Alguém que foi um dos membros mais insensíveis do último governo.
O que me irritou foi ver a líder do CDS, substituta do vice-ministro entretanto desaparecido, falar constantemente de uma austeridade “a la esquerda”.
Só não me irritou Pedro Passos Coelho, que parou no tempo, e continua a viver a preto e branco, cinzento.
Isto tudo irritou-me, porque eu irrito-me, por vezes.
É que só quem não sabe, não quer saber, nunca saberá, que dez euros numa reforma, para um casal de reformados, que receba mil euros de pensão, que pague uma renda de trezentos euros, que tenha electricidade, água, gás e televisão para pagar todos os meses, poderá fazer a diferença entre tomar a medicação ou não.
Alargar os escalões do IRS, acabar com a sobretaxa, que é dinheiro das pessoas, manuais gratuitos nas escolas do primeiro ciclo, menos desemprego, não é como diz Maria Luis Albuquerque refere que este ODE assenta num aumento de impostos socialmente injusto, abriu a época da caça ao contribuinte, diz Assunção Cristas.
Pergunta pertinente:
Porque no te calas?
Todos criticam o aumento do imposto nos refrigerantes e nas cervejas, na verdade sou suspeito, já bebo néctares nacionais há anos.
Há quem diga, e alguém que é de direita, que este ODE até tem uma virtude, estimula as empresas que trabalham produtos frutícolas.
E, a Coca-Cola, a minha bebida preferida, faz mal.
Já deixei de a beber há meses. Bebo de vez em quando, logo, o imposto será pago, mas não o sentirei.
Irei sentir o retorno da sobretaxa, irei sentir se os escalões do IRS alargarem.
Dizem que o governo foi criativo a ir buscar dinheiro em impostos.
Qual é o ODE, em Portugal, nos últimos cinco anos que foi buscar dinheiro à Coca-Cola?
Nenhum!
O último governo, escudado pelo presidente da república e pelos comissários europeus e agentes do FMI (não disse FBI) que por pouco não fechou o país – penso que é o que se seguirá ao momento em que um PR iça o estandarte nacional ao contrário) – aumentou o imposto sobre o tabaco de mascar.
Até hoje ninguém fez as contas.
O que há mais são burros as mascar, palha, no Alentejo.