O Secretário-Geral do PCP anunciou uma campanha para debater a saída do euro. Invoca a “libertação da submissão ao euro, pela produção, o emprego e a soberania nacional”, a “insustentabilidade dos constrangimentos e imposições da UE”, as “inaceitáveis pressões”, etc. (v. Público, 18-12-2016, p. 9).
Tenho o maior respeito por Jerónimo de Sousa, com quem mantive, aliás, uma relação muito cordial durante os quatro anos em que nos cruzámos no parlamento. Temo, no entanto, a forma panfletária como anuncia esta iniciativa. Ninguém gosta de pressões inaceitáveis (e elas existem) nem de constrangimentos insustentáveis (que também podemos constatar). Mas será a saída do euro que nos libertará dessas circunstâncias?
Qualquer debate sobre esta matéria deve responder a questões que os defensores do regresso a uma moeda nacional têm evitado. No dia em que saíssemos do euro sofreríamos uma desvalorização cambial que afetaria, num sentido, os nossos rendimentos e as nossas poupanças e, no sentido inverso, as nossas dívidas.
Num primeiro momento o aforro, incluindo as pequenas poupanças, perderia uma percentagem significativa em relação ao seu valor em euros. Os rendimentos continuariam a sofrer sucessivas desvalorizações por via da inflação. Os pensionistas seriam os mais dramaticamente afetados porque a reposição do poder de compra perdido ano após ano seria improvável.
As dívidas, públicas e privadas, continuariam, inevitavelmente, a ter como referência o valor em euros, uma vez que estão, em grande medida, suportadas por fundos captados no estrangeiro. João Ferreira do Amaral, um dos mais teimosos adversários do euro, defende que “as dívidas, nomeadamente as do crédito à habitação, mantenham o seu contravalor em euros, mas que a diferença resultante da desvalorização seja assumida pelo Estado” (entrevista ao jornal “i” de 01-04-2015, in: http://ionline.sapo.pt/131346). Alguém acredita numa solução destas?
Creio que o PCP não poderá ficar pelos chavões panfletários e ignorar o reverso da moeda.