A pergunta é retórica, mas, curiosamente poderá tornar-se mais habitual ou trivial do que imaginamos. Terei algum terrorista na minha rua?
Da Cimeira dos chefes de Estado de governo de sete países do sul da Europa surge o propósito e o desejo de uma Europa mais cooperante e unida face à realidade (já não é fenómeno nenhum) do terrorismo ou do extremismo religioso. Transparece também o projeto do nosso líder do governo em fomentar uma política de proximidade antiterrorista atribuindo às autarquias um papel fundamental no desenvolvimento desta ideia, dada sua vocação de existência e de politica próxima da comunidade.
É o “primeiro” passo desde a criação da ENCT (Estratégia Nacional de Combate ao Terrorismo) e faz-me levantar a questão que escolhi para titulo: O MEU VIZINHO É TERRORISTA?
Confesso pensar que a ideia se baseia em princípios válidos e lógicos, mas, tendo em conta a cultura do típico português, o mais provável é que levará uns quantos a começarem a viver desconfiados do vizinho só porque professa um credo diferente, veste diferente ou até fala diferente. Podemos cair nesse risco e nessa situação ridícula e extrema.
Senão vejamos: Em Portugal, se há 40 anos uma rapariga andar de mini saia ou fumar significava que era demasiado leviana, nos dias de hoje (2017), sítios há onde uma mulher divorciada, ou a viver em união de facto, ou até por ser mãe solteira é vista pela comunidade quase como uma herege. Já nem sequer falo da forma como é encarada a homossexualidade… Apenas refiro isto para apontar o “nosso” nível de aceitação de costumes ou realidades que fogem dos cânones ditos “normais” do português tradicional. Também não pensem que é só o Portugal interior e “pobre”que tal acontece.
A isto juntamos o fenómeno das redes sociais e o papel de “tribunal de primeira instância” que se criou nas redes sociais. Todos sabemos que perante qualquer noticia ou acontecimento surgem logo juízes, advogados, penas e julgados a debitarem leis ou penas. Agora vamos transpor isto tudo para a questão em causa: Terrorismo e Autarquias.
O poder local irá fazer valer-se dos seus automatismos e instituições para alertar e prevenir para a radicalização terrorista. Como? Avisando as pessoas para que estejam atentas aos costumes, conversas, práticas dos nossos vizinhos?… Lá está… vão surgir muitos “agentes anti terrorismo”, na nossa rua ou prédio, muito atentos e que irão jurar que o vizinho é terrorista… só porque é estranho ele fazer muitas vezes caril, “homus” ou rezar pelo Alcorão.
Sabem o que aconteceu quando se decidiu revelar nas redes sociais listas de nomes de pedófilos residentes nas comunidades, em países como os EUA? O alarmismo foi tal que um desgraçado que tivesse o nome parecido a um pedófilo corria o risco de ser linchado… para depois lhe pedirem desculpa pelo erro que cometeram, mesmo tendo devassado a pessoa.
Sei que estou a ser simplista e demasiado superficial na análise, mas também não pretendo, acreditem, que o tema seja encarado com tom anedótico…agora… vai uma aposta como alguém, num futuro qualquer, vai passar o dia a questionar-se: “O meu vizinho é terrorista’”