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Nuno Garoupa e uma Nova Esperança

O Partido Social Democrata, após a morte trágica de Francisco Sá Carneiro, passou por um período muito difícil. Nesta altura o fundador do PSD foi substituído por Francisco Pinto Balsemão na liderança do Partido que ascendeu simultaneamente a primeiro-ministro.

Porém Pinto Balsemão teve sempre a vida dificultada nomeadamente pelas muitas divisões que atingiram a Aliança Democrática. Mas a contestação a Balsemão foi ganhando também terreno no interior do PSD. Ganhou forma e força. E são alguns jovens mais irreverentes, nomeadamente José Miguel Júdice, Pedro Santana Lopes e Marcelo Rebelo de Sousa que dão rosto a uma oposição interna que viria a dar origem, mais tarde, a uma tendência politica dentro do PSD chamada de “Nova Esperança”.

Apesar da oposição Pinto Balsemão foi somando vitórias internas que terminaram numa esperada derrota final. Foi substituído por Nuno Rodrigues dos Santos que era coadjuvado pela troika constituída por Eurico de Melo, Mota Pinto e Nascimento Rodrigues.

Entretanto realizam-se as eleições legislativas de 1983 que são ganhas pelo PS, mas sem maioria absoluta, que dão origem à formação de um governo de Bloco Central que junta PS e PSD, em que Mota Pinto ascende a vice-primeiro-ministro e posteriormente a líder do PSD.

No início do ano de 1985 morre Mota Pinto, sucedendo-lhe Rui Machete no partido e simultaneamente no Governo liderado por Mário Soares. A solução que já de si estava enfraquecida, com o desaparecimento de Mota Pinto, acaba por durar pouco tempo.

O grupo dos críticos designado de “Nova Esperança” entendiam que o PSD estava, perigosamente, a perder autonomia, vivendo numa posição de subalternidade face ao  Partido Socialista. Nesta altura temiam que a perda de identidade do PSD poderia levar a um papel marginal do partido na vida política portuguesa. A opção deste grupo de militantes foi clara. Passou por um combate declarado ao Bloco Central e pela assunção da matriz ideológica do PSD. Este caminho difícil, muitas vezes solitário, mas convicto conseguiu atingir os seus objectivos.

No congresso do PSD realizado a 19 de Maio na Figueira da Foz, a Nova Esperança, com José Miguel Júdice, Pedro Santana Lopes e Marcelo Rebelo de Sousa, que se apresentavam como oposicionistas intransigentes do Bloco Central levam Cavaco Silva à liderança do Partido. Esta nova liderança assume a ruptura com o Partido Socialista precipitando a queda do governo. Sucedem-se eleições Legislativas que levam o PSD ao poder e Cavaco Silva a Primeiro-Ministro.

Nesta altura, com as convicções e a força da Nova Esperança, constituída maioritariamente por jovens quadros de qualidade, foi possível fazer a ruptura com o PSD que se tinha instalado no poder entre 1981 e 1985. Um partido que vivia sem uma liderança forte, sem estratégia, que todos os dias se confundia com o PS e que estava a perder apoios e influência nos mais diversos sectores da sociedade portuguesa.

Hoje penso que já não é possível, a partir do interior do actual PSD, fazer a ruptura política necessária face à deriva neoliberal seguida por Passos Coelho e à total ausência de estratégia, de forma a retomar a matriz política iniciada por Sá Carneiro, precedida pelos governos de Cavaco Silva, abrindo novamente o partido aos portugueses.

O Partido Social Democrata foi definhando, deixou de ter protagonistas capazes de mobilizar os portugueses. Hoje resume-se a um directório de pequenos caciques que tem na mão a maioria dos votos dos militantes. É desta forma que vão mantendo o poder com o pequeno objectivo de salvaguardarem os seus próprios lugares e às suas clientelas. É de sobrevivência política que estamos a falar. Não existe um desígnio, nem um projecto para o País, nem me parece que estejam interessados em ter.

Nos últimos anos os críticos foram afastados ou tomaram a decisão de se afastar, por isso, a consciência critica desapareceu. Não existe debate, nem reflexão política. O PSD encerrou-se em si próprio, perdeu a sua matriz identitária. Hoje resume-se a pouco mais que um grupo de amigos. É exemplo disto a dificuldade que o PSD tem manifestado em apresentar candidatos fortes e credíveis para darem a cara nas próximas eleições autárquicas. E logo o PSD que teve sempre no poder local um dos seus principais pilares parece-me que, nas próximas eleições Autárquicas, pode correr o risco de lhe ver fugir uma das suas principais base de apoio político que sempre foram os autarcas.

Hoje a regeneração da vida política e pública parece-me que terá que passar pelo aparecimento de novos partidos, com novos protagonistas, com uma renovada forma de estar e de fazer política que sejam capazes de mobilizar novamente os portugueses, todos obviamente, mas sobretudo as novas gerações.

Nos últimos tempos tem ganho protagonismo Nuno Garoupa, o professor que dá aulas na Universidade do Texas A&M e que presidiu, nos últimos anos, aos destinos da Fundação Francisco Manuel dos Santos, tem dado várias entrevistas e escrito diversos artigos de opinião onde tem feito um diagnóstico acertado do estado da nossa democracia e do País. É uma personalidade respeitável, respeitada e escutada por largos sectores da sociedade portuguesa.

Não me parece que Nuno Garoupa esteja sozinho neste diagnóstico e nas soluções que aponta para o futuro do País. Norberto Pires, professor na Universidade de Coimbra e antigo presidente da CCDR Centro, tem publicamente assumido posições convergentes. Mas a estes tem-se juntado discretamente outras personalidades como Nuno Teixeira Castro, Jorge de Lima, Sara Gouveia Pinto, Helena Rosendo, Manuel Ribeiro da Silva, João Magalhães Júnior e Porfírio Soares Lemos. Não vou esconder que eu próprio também me revejo nas posições que Nuno Garoupa tem vindo a tornar públicas.

Parece-me que Nuno Garoupa e alguns dos seus mais próximos poderão protagonizar uma “Nova Esperança” para a vida política mas sobretudo para a nossa democracia e para o nosso País.

Paulo Vieira da Silva

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