Não conheço pessoalmente a Provedora dos Cidadãos com Deficiência da Câmara Municipal do Porto, Arquiteta Lia Ferreira.
Nunca foi minha paciente.
Não foi minha aluna.
Não fazemos parte do mesmo círculo de amizades.
Acresce que, respeitando a época do ano, não sou candidato a nada.
Não tenho qualquer processo de intenções.
Não tenho nenhuma agenda escondida.
E não tenho 10 milhões…de razões.
Tenho apenas uma.
Não sou candidato a nada em todo o Portugal, incluindo as ilhas (Madeira, Açores, Desertas, Berlengas…e Selvagens que, estranhamente, voltaram a estar na Moda).
Não sou candidato.
Ponto.
Como agora é moda recente dizer-se. Mas já que cito o “ponto” ainda gostava de saber como decorreu o concurso de adjudicação, quem foram os outros candidatos e quanto custou a campanha. São sempre detalhes preciosos mas tão omissos…mas este é um outro assunto a ser abordado a seu tempo.
Recentremos o tema desta crónica.
A Provedora dos Cidadãos com Deficiência da Câmara Municipal do Porto, Arquiteta Lia Ferreira.
Quando saí de Portugal não precisei de anunciar que iria andar por aqui. Sabe bem quem me conhece que o faria e faço. Agora com mais atenção e em detalhe.
Como tal tenho acompanhado atentamente a ação da Provedoria dos Cidadãos com Deficiência.
Segui de perto, entre outros, o projeto de acessibilidade para a Torre dos Clérigos, uma excelente iniciativa que teve o mérito de se conseguir tornar realidade.
O que nem sempre acontece em Portugal, Porto incluído. Não preciso de citar, a título de exemplo, as tão prometidas obras do Mercado do Bolhão que demoraram trinta anos a terem início (3 dos quais no mandato de Rui Moreira…e ao fim de 3 anos lá foram erguidos os taipais, quiçá porque já novas Eleições Autárquicas se vislumbram e conviria que a “coisa” tivesse um qualquer esboço de início, se mais não for, para poder constar na checklist).
Lembrei-me, de repente, da proto Provedoria da Igualdade mas, reafirmo, não me vou deixar afastar do tema nuclear deste texto.
Acompanhei também o SIA (Sistema Integrado de Acessibilidade) de e para o Porto.
Apreciei as diversas obras de criação de rampas de acesso em diversas passagens para peões na Cidade.
Tenho-me apercebido, inclusive, pelo que leio, de alguns dos diversos projetos que a Provedora dos Cidadãos com Deficiência tem em mãos, conducentes a uma verdadeira e real inclusão dos Cidadãos com Deficiência do Porto ou dos que aí se deslocam.
E porque já fiz parte da Equipa Autárquica da Câmara Municipal do Porto, no século passado, sei que a Provedoria não tem orçamento nem verbas próprias alocadas, nem sequer real poder executivo. Apenas pode fazer sugestões, recomendações, chamadas de atenção e propostas, desde que para tal haja recetividade e vontade e correndo sempre o risco, obviamente, de que as suas propostas acabem a medalhar o peito de outros. É um dos riscos do trabalho solidário, muitas vezes solitário, em prol dos diversos tipos de discriminados em Portugal.
Mas também pressuponho a infindável quantidade de reuniões preparatórias, de auscultação e de negociações necessárias, com as mais diversas entidades e personalidades, para que uma qualquer iniciativa adquira existência real e concreta. Até porque a máquina burocrática é pesadíssima, os poderes estão demasiado distribuídos, os interesses são múltiplos e os feudos são imensos. E todos estes entraves aumentam exponencialmente em tempo de crise. E voltam a aumentar em tempo de pré campanha eleitoral.
Acresce que tenho especial sensibilidade para as questões dos Cidadãos com Deficiência (auditiva, visual, cognitiva e motora) não apenas por ser Médico, mas também por ter coordenado a equipa que construiu a Agenda da Igualdade para Portugal e os seus 20 Grandes Temas na qual figura a temática das Deficiências, as suas especificidades, condicionalismos e realidades.
Acompanho, também por isso, todas as iniciativas da Provedoria, principalmente as que são públicas e subentendo as não públicas.
Por tudo isso pressupus que iria ver a Provedora dos Cidadãos com Deficiência ascender, legitimamente, a candidata a Vereadora.
Até porque e de modo duro mas frontal, cumpriria os mais diversos interesses políticos e de Marketing. Seria politicamente correto e ficaria bem na fotografia, fator que a muitos, agora, parece unicamente interessar. Mas também por ser Mulher e assim serem respeitadas as questões da Igualdade de Género e as quotas relativas ao desempenho de altos cargos públicos e políticos e por ser, também ela, uma Cidadã portadora de deficiência.
Os factos de ter trabalho e de qualidade, já efetuado no terreno, de ser Arquiteta e, como tal, perceber na essência e na prática, do tema e de entender, como ninguém, as necessidades, as vicissitudes e os condicionalismos dos cidadãos portadores de deficiência, todos eles de extraordinária relevância para mim, não parecem interessar aos decisores políticos de hoje.
Continuo a considerar que estamos em plena Era do Elogio da Mediocridade.
Em resumo, na minha lista de putativos candidatos autárquicos, Lia Ferreira ocupava um tranquilo lugar cimeiro, por tudo o acima elencado. Acima de tudo e faço questão de o sublinhar, por totais legitimidade, justiça e mérito. Acrescidas do facto de assim ficarem as questões da Inclusão das Deficiências e da Igualdade elevadas a uma mais do que justa posição cimeira.
E, obviamente, que esperava ver Lia Ferreira na lista de Rui Moreira.
Porque o Partido Socialista no Porto se mostra, erradamente, omisso e submisso em relação ao ainda Presidente da CMP.
E porque o Partido Social Democrata no Porto tarda a encontrar-se, enredado que está no total caos interno em que o partido se encontra a nível nacional.
Contudo não é isso que pressinto que vá acontecer.
Tenho sentido algum distanciamento de Rui Moreira em relação à Provedora e não apenas me baseio no mais recente facto de este ter inaugurado um parque infantil adaptado para crianças com deficiências e a Provedora dos Cidadãos não ter estado presente. O afastamento, sinto-o, fica por demais evidente no “print screen” que acima publiquei, retirado da página de Rui Moreira, autenticado com a sua foto, em resposta a uma pergunta de um interlocutor e que passo a transcrever…
“Fale com a Lia, a provedora do deficiente. Não foi nomeada por mim…é ela que poderá dizer-lhe o que temos feito. Não me defendi das suas acusações porque há um provedor”.
Sujeito, obviamente, a erros meus de interpretação o que verifico, num registo invulgarmente rude, é que Rui Moreira menoriza publicamente a Provedora.
Trata-a pelo nome próprio esquecendo-se ou não que está em público e omite o título académico.
Faz questão de escrever o cargo em minúsculas quando teve a cautela de inserir o nome próprio em maiúsculas. Mas vai mais longe, quiçá propositadamente, estropiando o título oficial do cargo.
A função da Arquiteta Lia Ferreira é “Provedora dos Cidadãos com Deficiência” e não o grosseiro epíteto de “provedora do deficiente”.
E não quero deixar passar em claro a evidente discriminação.
São Cidadãos com Deficiência e não deficientes, num registo profundamente discriminatório, a lembrar o Estado Novo.
Até porque deficientes não são estes Cidadãos.
Deficiente é a Sociedade quando se atreve a discriminar as vítimas de circunstâncias que condicionam, circunstanciam e manietam em permanência.
Mas mais deficientes são, ainda, os atores políticos que se atrevem a divulgar, difundir e perpetuar semelhante preconceito.
Acresce, para concluir a análise desta infeliz mensagem de Rui Moreira, que a Provedora é, felizmente, uma Mulher e, creio, orgulhosa de o ser. Pelo que não compreendo que Rui Moreira a destrate, de novo, no fim da mensagem quando refere…”Há um Provedor.”
Não, Rui Moreira, não há um Provedor.
Há uma Provedora.
Do Género Feminino.
Mulher.
Pressuponho (e reafirmo que a minha leitura se baseia no que leio mas habituado a ler inúmeros relatórios que preciso de entender e de subentender) que a relação de Rui Moreira com Lia Ferreira se tenha deteriorado.
Por culpa do próprio ou por estar mal assessorado e/ou informado facto que não inocenta um detentor de um cargo político que se considera Lider.
A confirmar-se a minha leitura e a prever uma incompreensível substituição da Provedora espero que não se verifique nenhuma das duas seguintes circunstâncias…
A entrega da Provedoria a uma qualquer empresa privada de consultadoria sejam quais forem as circunstâncias político partidárias, familiares ou de proximidade envolvidas.
Que este triste episódio não transcenda Lia Ferreira e não represente mais um exemplo da guerra de bastidores e consequente rolar de cabeças entre Rui Moreira e Rui Rio. Até porque, a tal se verificar, as verdadeiras vítimas são, sempre, os mais desfavorecidos e necessitados…neste caso os Cidadãos com Deficiência do Porto.
Vou aguardar com calma, mas com redobrada atenção…contudo,
Assim não, Rui Moreira!
Manuel Damas