Blogue Insónias

Não é “isto” que eu quero para o meu PPD/PSD. Alio-me ao tempo para esperar melhores dias…Colocando um ponto final e um parágrafo no assunto das “quintas-feiras”.

Não gosto de José Sócrates. Nunca gostei do estilo governativo, muito menos das políticas que os seus governos seguiram. Foi um mau PM. Mas, foi eleito democraticamente. Duas vezes! É certo que terá sido um tanto-inábil ao aceitar fazer um governo minoritário com um PR como Cavaco Silva em Belém. Mas fê-lo. Teve coragem de enfrentar um parlamento hostilizado, num contexto económico internacional dificílimo, mas, onde as loucuras internas do gastar-à-tripa-forra sobressaíam e nos empurraram para penosos anos de crise. O resto, já todos conhecemos. As marcas continuam bem presentes. E assim continuarão por muito tempo. Nem nos próximos 20 anos o nosso calote estará pago. Mas, isto é outra conversa.

O tema de hoje é a “prestação de contas”, cujo livro, vertido num primeiro volume com quase 600 páginas, de um certo contar-de-estórias-à-arquitecto-Saraiva, o ex-Presidente decidiu trazer para o público. Não vou perder demasiado tempo na análise do sobredito livro – o estilo do livro e o manifesto em que se sustenta não merecem tal perda de tempo! – mas, assaltam-me, desde logo, quatro questões. Não pelo autor, mas pelo estado a que o meu PPD/PSD chegou.

1) A apresentação do livro contou com uma presença em peso deste PSD.  Não me admira, portanto, que este PSD seja o reflexo do seu “mentor”. E assim quisesse prestar as suas contas. Recupero, todavia, um trecho – fundamental – de José Miguel Júdice, a propósito da herança de Cavaco Silva. Lapidar, «Cavaco Silva, que “entrou na cena política como o verdadeiro herdeiro” de Sá Carneiro, “procurando assumir o seu estilo frontal e sem cedências”, acabou por transformar o PSD num partido “feito à sua imagem e semelhança: um partido tecnocrático, um catch all party, ou seja, um partido sem fronteiras, onde todos poderiam vir plantar a sua tenda, desde que aceitassem a liderança indiscutida do então primeiro-ministro, e assim ajudassem a conquistar votos e a manter suseranias”.». Sim, foi nisto que o PSD se transformou: e “este” não é, nem poderia sê-lo, o meu PPD/PSD.

2) Continuando, o PSD actual, este legado de Cavaco Silva, é o mesmo que exige uma visualização em público das sms trocadas, no foro privado, entre o actual ministro das finanças, Mário Centeno, e o administrador que ele havia escolhido para liderar o banco público. Este PSD, qual virgem ofendida, exige que se pratiquem actos à margem da Constituição. Esquecem-se, por exemplo, que a CRP, no seu Artigo 34.º garanta a inviolabilidade das comunicações privadas. E as comunicações entre Centeno e Domingues são do foro privado. Para serem assim mantidas. Mesmo que o Sr.Domingues as mostre a um Conselheiro de Estado (ou a uma outra qualquer personagem), o facto é que, as comunicações -PRIVADAS – só dirão respeito ao emitente e receptor, e vice-versa. O resto é verbo-de-encher, adicionando, porventura, custos e mais custos, para repercutir no Estado.

Desenganem-se os que acreditam que as quintas-feiras “presidenciais” não devessem ser  privadas. Sim, Privadas! Sob pena de, toda esta novel irresponsabilidade de Cavaco Silva, outorgar uma doutrina, abrindo um precedente gravíssimo sobre as conversas privadas entre PM e PR. Ou um Primeiro-Ministro não terá agora um receio, fundamentado, para se conter nas conversas privadas que trava em Belém com o seu PR? Felizmente, o Presidente Marcelo já nos sossegou, avisando que não tenciona fazer tal patranha no futuro. Felizmente, respira-se um novo ar em Belém. Mas, sim, ante tal avidez pelas novelas do livro do ex-Presidente, o Sr.Silva, também é nisto em que o certo PSD se revela. E “este” não é, nem poderia sê-lo, o meu PPD/PSD.

3) No tal prestar de contas, Cavaco Silva afirma que o PCP e o BE são uma influência negativa na governação. Lamentável. Por tudo. Até porque, em democracia, viver e cultivar um estado de direito democrático, pressupõe aceitar a opinião divergente de todos. Todos, sem excepção. Só assim conseguimos legar a gerações futuras aquilo que outros nos legaram e que muito prezamos. Daí que qualquer escola de pensamento único, apenas revele o sentido democrático dos seus promotores. Não é isto em que acredito. Não é isto que quero para o meu país. Mas, sim, foi também nisto que este PSD se transformou, tal como Júdice o desencantou. E “este” não é, nem poderia sê-lo, o meu PPD/PSD.

4) Por fim, até me causa arrepios quando vejo o Sr. Silva elogiando, neste seu livro do “prestar de contas”, um dos piores ministros das finanças de sempre, o Professor Teixeira dos Santos. Responsável máximo pela nacionalização do BPN, tendo sido agraciado por… Cavaco Silva, pelos meritosos serviços prestados à Nação. Causa-me um certo desconforto ver o meu PPD/PSD rir e aplaudir este circunstancialismo alternativo. Sim porque elogiar e agraciar má política económico-governativa – com cerca de 9 mil milhões de euros para atirar para as costas do contribuinte – só pode fazer parte dessa modernice actual dos factos alternativos. Mas nada que um resgate internacional pedido em 2011, também para tapar e muito este imbróglio político-partidário que é o BPN, para teimar em nos recordar tais valorosas acções do Professor Teixeira dos Santos.

Sim, é verdade. Também foi nisto que este PSD se transformou. Uma agremiação de esquecimento. E “isto” não é, nem poderia sê-lo, o meu PPD/PSD. Não admira, pois, o descrédito que assola tanta “instituição democrática”, destacando-se, dele, este actual status quo partidário. Mas, enfim, esta é a “nata” da classe política que teimamos em eleger. O tempo, esse assaz cultor de responsabilidade, vai-nos marcando indelevelmente, desde logo no bolso, tais irresponsáveis decisões sobre os actos eleitorais.

Sobre José Sócrates, pouco importa relevar. Disse o que penso sobre ele logo no início deste excerto. Apenas registo um certo regozijo por ele não negar jogar o mesmo jogo que o Sr.Silva.

Alio-me ao tempo para esperar melhores dias…Para já, sigo o conselho do meu Presidente Marcelo, e coloco um ponto final e um parágrafo no assunto das “quintas-feiras”.

PS: Imagem retirada de: https://sol.sapo.pt/artigo/549729/socrates-livro-de-cavaco-e-um-ajuste-de-contas

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