Um cronista do Observador (Alberto Gonçalves) e o arquiteto Saraiva, do Sol, escrevem sobre “verdade” usando uma mentira como argumento. É óbvia a intenção de enganar os leitores, mas ninguém liga muito. Parece que a mentira nos jornais é mais tolerada do que na política. Ainda que o descrédito nos media seja tão nocivo como o descrédito na política.
A mentira é daninha sob qualquer forma. Claro que há a margem concedida por Max Weber. Na “ética da responsabilidade” há que medir as consequências do que se diz.
E existem nuances no conceito. Não dizer toda a verdade, responder alhos quando se pergunta bugalhos…
Mas tão daninha como a mentira, é a dualidade de atitudes perante ela. Em especial na política.
Poucos terão mentido mais do que Passos Coelho, sobre coisas concretas que afetam muito muitas pessoas. Refiro-me, em especial, à campanha de 2011. Não há Weber que o salve, neste caso.
Que autoridade têm ele e o PSD, enquanto for ele o líder, para se arvorarem em arautos da verdade?
Voltando ao cronista e ao arquiteto Saraiva… Escreveram ambos que o Público já tinha dado a notícia dos offshores em abril de 2016 e repetia agora para favorecer o Governo.
Basta ver as edições daquele jornal de 28 de abril 2016 (p. 16) e de 21 de fevereiro de 2107 (p.2). Na primeira são referidos 10 mil milhões que ESTAVAM nas estatísticas. Na segunda, 10 mil milhões que NÃO ESTAVAM nas estatísticas. Neste último texto está expressamente dito que os valores de abril “não coincidem com os apurados oito meses depois”. Não há confusão possível!
Armar em moralista com a mentira na ponta da caneta desacredita quem escreve.
Dito isto, penso que Weber também não absolve o Ministro das Finanças, dada a falta de clareza das suas afirmações. Mas quem o quer destruir, por evidentes razões de interesse partidário, afasta-se, em absoluto, da política da responsabilidade.