Marcelo interage com o País tal e qual um “middle aged gentleman”da “gentry” contemporânea britânica interage com os trabalhadores da sua propriedade e com os “vizinhos” da aldeia à ilharga da mesma: com afabilidade e com um misto de proximidade e de distância, que lhe amplifica a simpatia e a autoridade.
É um posicionamento inteligente que agrada à direita conservadora e à esquerda vodka-caviar, que causa desconfiança ao PCP e uma enorme irritação à parolada bacoca do neoliberalismo de fancaria representado pelo “passismo”, que não percebe que a autoridade é diferente de autoritarismo e que a mesma não é reconhecida pelo Povo por decreto, mas sim instintiva e naturalmente.
Este Marcelo-Presidente na sua relação com o “passismo” faz-me lembrar a extinta AOC e o seu velho slogan, que além de engraçado era um programa em si mesmo – “AOC, uma espinha atravessada na garganta de Cunhal” – sendo o dito Marcelo uma espinha atravessada na garganta de Passos Coelho.
O “passismo” e tudo o quanto o mesmo representa, só se dá bem com um exercício presidencial “acavacado”, caracterizado pela mesquinhez, pela vulgaridade de um autoritarismo sem carisma e apenas porque “sim”, expelidor de migalhas de bolo-rei, previamente mastigadas, à laia de retórica política imbuída de uma espécie de infalibilidade papal, assente no “nunca me engano”,com pouca paciência para as traquinices do Povo, que se quer submisso e remediado, sem muita fome mas pouco letrado, esse mesmo “passismo”, “arrelvalhado”, que guarda preciosamente no seu imaginário as botinhas do Doutor Salazar e por isso mesmo teima em demorar a desamparar-nos a porta.