Este artigo de opinião no Observador do João Marques de Almeida merece um comentário porque, de facto, ele reflete a situação verdadeiramente dramática e real em que vive a área política da extinta PàF. Na verdade, por um estranho fenómeno sobrenatural, essa área política vive perdida entre as 23:00 e as 24:00 do dia 4 de Outubro de 2015.
Não conseguem mudar de dia e estão lá presos há quase 1 ano num dilema verdadeiramente aterrador: se mudam de dia e conseguem chegar ao dia 5 de Outubro, percebem que afinal perderam (como a realidade já lhes mostrou) – sem ninguém “roubar” ou “derrubar” a legislatura – e são necessárias mudanças na sua área política, o que implica que os seus líderes e restante entourage não sobrevivem politicamente; se não mudam de dia (como decidiram fazer), estão condenados a morrer aos poucos, repetindo sempre a mesma lenga-lenga e rezando diariamente para que aconteça o único evento que os pode salvar: uma catástrofe. Por isso anunciam-na e desejam-na, procurando ver em pequenos factos, que afincadamente distorcem (como faz José Marques de Almeida), sinais da tão desejada catástrofe redentora.
Este artigo de opinião é nisso exemplar, insistindo na ideia da legislatura “roubada” ou “derrubada” (“Se Costa colocasse os interesses de Portugal à frente dos seus interesses, no ano passado, teria aceite ser vice-primeiro-ministro de Passos Coelho e ter formado uma grande coligação com o PSD e com o CDS”), em pretensas mensagens da CE que não existem (“… a Comissão disse aos portugueses: o problema não foi o anterior governo; a geringonça é o problema”), em significados políticos distorcidos sobre as sanções (“Disse em Bruxelas que o governo da coligação PSD-CDS não merecia ser sancionado. A Comissão Europeia concordou e deixou cair as sanções”), em teorias da conspiração tentando amarrar Marcelo Rebelo de Sousa (“Costa ainda pode tentar forçá-las, mas agora já não tem qualquer dúvida. Antes do confronto com Bruxelas, terá que derrotar Rebelo de Sousa”), em fazer piruetas de última hora (” Ironicamente, uma aliança entre o velho PPE, Marcelo Rebelo de Sousa e Juncker, derrotou a estratégia de Costa”) e em anunciar a plenos pulmões a famosa catástrofe (“A partir de Setembro, os sarilhos de Costa vão agravar-se. As notícias sobre a economia e a execução orçamental deste ano vão ser más. Já todos perceberam. A discussão sobre o orçamento do próximo ano vai ser penosa. A situação dos bancos vai piorar. Aliás, é provável que Portugal venha a precisar de um programa de ajuda europeu para recapitalizar o sistema financeiro”). Pelo meio de tanto delírio ficam as contradições insanáveis que o autor não conseguiu disfarçar: a geringonça queria eleições (“As sanções seriam o pretexto ideal para esse conflito. Juntamente com o “Brexit” e com a situação dos bancos, o PS e o BE teriam o contexto ideal para eleições antecipadas”), mas afinal tem é sede de poder e quer ficar o máximo de tempo possível e até ao fim da legislatura (“A geringonça foi criada para o poder, ficará o máximo de tempo possível no poder e morrerá no poder”). Enfim, uma situação de facto dramática.
E assim vemos uma área política, como a do PSD, por exemplo, que já foi reformista e arrojada, a desejar o pior para Portugal só porque isso lhes parece que garante a sobrevivência política de alguns. Aparentemente, o país é o que menos interessa.
Os muitos outros que observam calados e quietos tudo isto, deveriam saber que é urgente romper com este dilema. Deviam lembrar-se das palavras de Francisco Sá Carneiro: “saber estar e romper a tempo, correr os riscos da adesão e da renúncia, pôr a sinceridade das posições acima dos interesses pessoais, isto é a política que vale a pena”.
É absolutamente urgente libertar os prisioneiros do dia 4 de Outubro de 2015.
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