Para lá da curva do caminho, o rio corre livremente.
Ainda.
Por enquanto desconhece o cruel destino que o espera.
Ou talvez saiba e finja não o saber.
Provavelmente, prefere aproveitar a liberdade que lhe resta.
Ou, simplesmente, não quer que lhe sintam a dor.
Para lá da curva do caminho já não se ouvem comboios.
A linha e o rio Tua percorrem um vale que lhes partilha o nome.
E a alma.
O vale do Tua encontra-se à beira da putrefação, vítima de uma barragem.
Para lá da curva do caminho, o vento, esse, corre livremente.
Esperneia-se, contorce-se e grita, gravando nas rugas do vale a memória da barbárie que ali se comete.
Para que não se esqueça, para que as gerações futuras saibam que lhes foi surripiado um tesouro, um futuro melhor.
Para lá da curva do caminho reina a incúria, que se sobrepôs a um bem maior.
Para lá da curva do caminho.