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iParque (II)

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Depois de construídas as infraestruturas era essencial que o iParque tirasse partido das vantagens que tinha para oferecer. A pergunta a que todos temos de responder, seja em Coimbra, seja no país, precisados que estamos de investimento competitivo, é bem simples e clara: por que razão um investidor, que procura locais para rentabilizar o seu investimento produtivo, deve escolher Coimbra, e neste caso particular, o iParque? Que argumentos objetivos somos capazes de dar para sustentar decisões de investimento racionais? O que temos de fazer é um trabalho a várias dimensões, em vários tabuleiros, para demonstrar que Portugal, Coimbra e o iParque se preparou para o investimento, entende o que procuram os investidores e é um parceiro ativo com o qual podem contar. É um trabalho de médio e longo-prazo, que na verdade nunca está concluído, mas que precisa de – num determinado momento – mostrar que a estratégia é consequente, partilhada por todos e um desígnio nacional, regional e local. Muitas das coisas a fazer, no plano do contexto, estão ao nível regional e nacional, e constituem argumentos de reformas há muito adiadas e que justificam a baixa atratividade do país para investimento. Os números do investimento direto estrangeiro são bem a prova disso, bem como o facto de o investimento existente se basear nos baixos custos do trabalho e não na qualidade dos nossos recursos humanos, na competência da nossa investigação e desenvolvimento e na qualidade das condições de contexto que oferecemos: é esse o investimento que deveríamos procurar, pois é o único com capacidade de mudar o perfil da nossa indústria e, em consequência, das nossas exportações e da nossa economia. No conjunto, tudo isso dá uma imagem de um país que não se preparou para o investimento e insiste em não o fazer.

Um parque de ciência e tecnologia tem alguma margem de intervenção e pode dar o exemplo, liderando numa certa estratégia de atuação. Por forma a fazê-lo, e tendo em consideração que os objetivos essenciais eram:

  1. Ser o catalisador do desenvolvimento económico da região;
  2.  Promover o desenvolvimento de novas empresas baseadas em conhecimento (e não só em tecnologia), incentivando a transferência de tecnologia entre centros de conhecimento e empresas através de projetos de I&D em consórcio;
  3. Promover ou contribuir para instalação de iniciativas empresariais relevantes que possam alavancar o desenvolvimento rápido e sustentável de áreas identificadas como estratégicas;

o iParque privilegiou 3 investimentos essenciais que procuravam a sustentabilidade do parque: infraestruturas diferenciadoras (preparadas para todas as exigências), serviços de qualidade (edifício VINCI) e incubação de 2ª fase (edifício TESLA). Em todos estes vetores estratégicos dedicamos muita atenção e o procuramos fazer o melhor. A obra de infraestruturas (ver imagem da altura, anterior à instalação de empresas) terminou essencialmente dentro do prazo e cerca de 300 mil euros abaixo do preço contratado (deve ser caso único em termos nacionais). O edifício VINCI foi preparado para fornecer serviços às empresas, mas também para conter mais-valias que poderiam sustentar os custos operacionais do parque (é essencial que estas iniciativas contenham mecanismos que garantam a sua sustentabilidade): um data-center, condições únicas para eventos profissionais e científicos, capacidade de instalação de serviços avançados, condições únicas de restauração e cafetaria, um local ideal para encontros profissionais. O edifício TESLA era o coração do iParque. É para mim inaceitável e incompreensível que tenha sido abandonado – depois de eu ter cessado funções no início de 2012 – já com todos os projetos concluídos e o financiamento garantido, pois era e é essencial para dinamizar a instalação de empresas pequenas com elevado grau de crescimento. O que se seguiu é só consequência de péssimas decisões, ou da total ausência de decisão. Na verdade, e desde essa altura, todo o projeto está moribundo, abdicou de todo o tipo de promoção nacional e internacional e não apresenta vantagens competitivas relativamente a outros locais. Financeiramente está também em péssima situação, tendo consumido os ativos de que dispunha e que garantiam o equilíbrio necessário para as ações que eram urgentes em 2012, como consequência da total inação. Problemas legais, Lei 50/2012, obrigavam a intervenção urgente da sociedade e do principal acionista (Câmara Municipal de Coimbra), o que foi até hoje pura e simplesmente ignorado. Ao ponto de a Sociedade Coimbra Inovação Parque não realizar a sua Assembleia-Geral, permanentemente adiada pela Câmara Municipal, ter as contas de 2014 e 2015 por aprovar (não percebo a ausência de intervenção do Tribunal de Contas e do Ministério Público), e continuar a destruir todo o potencial de um parque verdadeiramente único e essencial para captar investimento. Olhando para todos os outros espaços de localização empresarial existentes em Coimbra percebe-se, pela total degradação, a ausência de estratégia e de política económica e empresarial na cidade, ficando a ideia de que os decisores pensam que basta reticular um terreno com lotes para conseguir atrair empresas.

 

Leitura suplementar – estratégia do iParque até final de 2011:

https://dl.dropboxusercontent.com/u/16629734/iParque_Estrategia_2011.pdf

 

Artigo anterior: iParque (I)

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