Na semana passada o Diário As Beiras dava nota de que o iParque continuava sem futuro definido, fruto da indefinição estratégia de quem tem obrigação de o gerir. Na qualidade de ex-Presidente do Conselho de Administração do iParque, entre meados de 2007 e final de 2011, e tendo sido o responsável pela sua construção e dinamização inicial, incluindo a estratégia definida para o seu futuro a médio e longo prazo, gostaria de deixar aqui uma reflexão sobre aquele parque, a sua história, o que estava definido, o estado atual e sobre o seu potencial, num momento em que o país precisa de dinamizar a sua atividade empresarial e atrair investimento direto estrangeiro.
- Quando assumi funções em Agosto de 2007 o iParque não era mais do que uma ideia muito vaga de um parque para empresas tecnológicas de alguma dimensão, cuja responsabilidade assentava numa empresa municipal que estava envolvida em vários conflitos, até judiciais. Um deles colocava frente-a-frente o então Presidente do Conselho de Administração, e vice-Presidente da Câmara, e o restante executivo da Câmara Municipal (incluindo o Presidente da Câmara);
- O Parque tinha uma candidatura aprovada no 3º Quadro Comunitário de Apoio, no valor de aproximadamente 1 milhão de euros, que tinha como finalidade construir as infraestruturas e o edifício administrativo;
- Tendo em conta que se estava no final desse quadro comunitário, que os projetos de infraestruturas e de edifícios não estavam minimamente realizados e que aquele financiamento era manifestamente insuficiente, uma das minhas primeiras decisões foi reconhecer que não tínhamos condições para usar o financiamento atribuído. Comuniquei essa decisão, partilhada com o Presidente da Câmara, ao então Presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro, afirmando que iria desenvolver todos os esforços para estar em condições de aproveitar as oportunidades que se abrissem no quadro comunitário seguinte: o QREN;
- Fizemos um esforço muito significativo de reorganização da Sociedade iParque, de reformulação estratégica, de reforço da estrutura acionista (envolvendo empreendedores da região, mas também da Universidade de Coimbra que passou a ser o 2º principal acionista, etc.), de envolvimento com outros parceiros da região, de reorganização do conselho de administração e de definição clara do que seria o iParque e o seu papel na região. Em consequência, foram reformulados os projetos de infraestruturas e do edifício administrativo (depois denominado Da Vinci) e planeado um novo edifício que se destinava à aceleração de empresas (incubação de 2ª fase) e se viria a designar por TESLA;
- Todas estas componentes (infraestruturas, VINCI e TESLA) foram candidatas ao QREN, tendo obtido financiamento com uma taxa de cofinanciamento que foi evoluindo e que terminou a rondar os 90%;
- O iParque fez as obras de infraestruturas, realizou os projetos do TESLA, promoveu o respetivo concurso público, concluiu o edifício VINCI e colocou em execução a estratégia definida, procurando encontrar os investidores que identificava como mais interessantes. Mais tarde, já em 2012 e quando eu próprio não fazia parte da administração do iParque por ter cessado funções, a administração do iParque decidiu infelizmente abandonar o projeto da aceleradora de empresas TESLA, perdendo totalmente o financiamento aprovado;
- Importa referir que a sociedade iParque realizou as referidas obras, e enquanto não era recebido o financiamento comunitário, recorrendo a um empréstimo bancário junto do BES;
- A Câmara Municipal de Coimbra adquiriu os terrenos do iParque e fez um aumento de capital em espécie, transferindo esses ativos para o iParque, aumentando assim o seu peso acionista na sociedade iParque. Estamos a falar em cerca de 2 milhões de euros em terrenos;
- O iParque custou: 6,7 milhões de euros (infraestruturas), 4 milhões de euros (VINCI), mais custos operacionais (que foram sempre mantidos no nível mais baixo possível). Ou seja, custou algo a rondar os 11 milhões de euros (financiados pelo QREN a taxas a rondar os 90%), tendo a sociedade iParque adquirido, no essencial, os meios de financiamento necessários para avançar com o projeto;
- Até início de 2012, dando corpo à estratégia montada, o iParque atraiu bem acima de 20 milhões de euros de investimento privado, tendo instalado empresas inovadoras como, por exemplo, a Innovnano (nanotecnologia, cerca de 15 milhões de euros de investimento, ocupando um lote de 3 ha);
- Isto significa que o iParque, até 2012 (menos de dois anos depois de ter as infraestruturas prontas, e sem ainda ter o VINCI em funcionamento – estava em construção), atraiu em investimento privado, números redondos, cerca de 20/11 *100 = 181% do seu custo inicial. Gostaria de saber qual é a iniciativa de inovação, incubação, captação de investimento privado, captação de empresas, etc., de Coimbra, ou do país, que tem resultados deste tipo. Conseguem dar-me um exemplo? Só um, por favor?
Na próxima semana, aqui e no Diário As Beiras, voltarei a este assunto, explanando em detalhe qual era a estratégia do iParque até 2012 que permitiu obter os resultados acima brevemente referidos.
Nota: artigo publicado, em versão mais curta no Diário As beiras.