A Inglaterra, sempre tão fleumática, parece ter acordado (finalmente) para a realidade, com a possibilidade, dramática, do “Brexit”.
Um pesadelo que, a concretizar-se, abalará fortemente o Reino Unido, poderá significar o fim do sonho/pesadelo europeu, contribuirá para uma nova crise económica mundial e afetará a Economia portuguesa.
E não estou a ser dramático, mas realista.
Mas o irónico e sarcástico de toda esta situação, verdadeiramente burlesca, é que foi o Governo Britânico que a desencadeou quando David Cameron, necessitado de uma agitação política, qual balão de oxigénio, decidiu lançar publicamente a ideia-ameaça da saída de Inglaterra da União Europeia… também para condicionar a Europa e tentar coletar ainda mais dividendos.
Se Cameron fosse um verdadeiro líder ou se, pelo menos, tivesse lido, aprendido e apreendido a História Mundial Contemporânea, recordaria, no mínimo, a saga de “Dr. Jekyll and Mr. Hyde” mas, decididamente, não o é.
Assim, o monstro libertou-se, ganhou autonomia e o grão de areia transformou-se numa enorme bola de neve que rola, descontrolada, pela colina abaixo, adquirindo potencial para desencadear uma das maiores tempestades políticas europeias da Hodiernidade, com evidentes e incomensuráveis repercussões mundiais.
Agora os britânicos entraram em total histeria com o pavor do resultado do referendo de 23 de Junho, mas a procissão ainda só vai no adro, como soi dizer-se.
Desta forma, perante o provável Armageddon, uma onda de agitação da população, porque votante, tem sido desencadeada, agitando a figura do “bogeyman”.
Senão vejamos…
São os políticos, com Sadiq Khan, o novo Mayor Trabalhista de Londres à cabeça, a evocar os mais variados anátemas.
São os banqueiros a escrever manifestos, logo secundados pelo Secretário de Estado do Tesouro Britânico e imediatamente tornados públicos, alertando para um consequente aumento de 39 biliões de libras nos empréstimos bancários.
São os cientistas, encabeçados por Stephen Hawking, a lançar dramáticos avisos relativamente ao que o Brexit significará para a investigação científica inglesa em termos de retrocesso, porque atingida por enorme redução de fundos.
São as associações de Senhorios a avisar que a derrota do “Remain” obrigará a uma redução de cerca de 18% nas rendas das habitações o que, todavia, significaria uma legítima e justa mudança e subsequente alívio para os locatários, principalmente os londrinos.
São as Universidades a revelar o até então desconhecido pelos seus parceiros europeus…os imensos milhões de euros que as Universidades, principalmente as londrinas, receberam nos últimos dez anos de financiamento europeu e a serem definitivamente perdidos com a saída…só ao “Imperial College” foram dados 342 milhões de euros, bem distantes dos 181 milhões de euros auferidos pelo “King’s College”. Apetece questionar a que imensa distância estarão as Universidades Portuguesas, nomeadamente a do Porto?!…
Mas a longa e diariamente aumentada lista dos “aflitos” não fica por aqui…
São as Associações Ecologistas a lançarem flyers próprios a favor do “In”, avançando que a Inglaterra só continuará a ser verde na UE.
São as Associações de Apoio e Defesa dos Animais a declarar que nunca os animais estiveram tão protegidos nos seus direitos como na Europa… e que a situação poderá mudar, dramaticamente.
São as Associações LGBTI a afirmar que os Gays, de um modo global, nunca foram tão “iguais”, como na Europa e que tudo ficará muito pior com o abandono.
São as Agências de Turismo a clamar que o Reino Unido perderá a trono de Londres ser o melhor destino turístico do Mundo se o “Remain” perder o referendo.
Até a OCDE veio, muito recentemente, avisar que a Inglaterra verá a sua Economia recuar 3% com a saída da União Europeia, secundada pela Agência de Ratings Standard&Poor’s que declarou que o Reino Unido perderá, com toda a certeza, a notação do top “Triple-A score”a verificar-se a tão temida saída.
Inclusive o FMI já veio alinhar pelo mesmo diapasão.
Só falta a Rainha vir avisar que a Coroa Inglesa implodirá se o “Brexit” vencer…o que, em abono da verdade, poderá suceder até porque a Casa Real Britânica já viveu melhores dias, em termos de popularidade; a Rainha Isabel II já não possui a “garra” que sempre a caracterizou e que serviu de suporte à Inglaterra nos piores momentos políticos que o País atravessou e os seus “sucedâneos” encontram-se a anos-luz no que ao apoio da população concerne.
E tudo isto devido à insensatez de um Político…que nunca soube ser Líder.
Manuel Damas
Post Scriptum: Já depois de este texto ser escrito o Primeiro Ministro Espanhol, a Chanceler Alemã, o Presidente do BCE e o PM Holandês, em intervenções em diferentes tempos, declararam, quase em uníssono, que a verificar-se o “Brexit”, os cidadãos ingleses perderão o direito de livremente viajar, fazer negócios ou trabalhar em território europeu. Acerca da opinião de Portugal nada se sabe…como sempre.