O tema que hoje aqui me traz e me inspira a escrever estas singelas linhas prende-se com algo que me preocupa verdadeiramente que é a questão da civilidade. Civilidade é um termo pouco usado mas que representa muito no que toca ao carácter das pessoas.
E abordo este tema porque de facto me preocupa a postura das pessoas e ainda mais quando ela se reflecte no mundo dos negócios. Não raros têm sido os exemplos que tenho ouvido de jovens, sim porque pessoas na casa dos 40 não são velhas, que por pura ganância tratam com nenhum ou pouco respeito os funcionários das empresas que tomam como suas por apropriação mas não tratam como suas com o respeito que esse património construído com o esforço dos seus antepassados lhes merece.
O tecido empresarial, ainda mais o das médias empresas deve ser tratado como cristal pois dele dependem não só os postos de trabalho e consequente sustento de um sem-número de famílias, como os clientes, os fornecedores, as famílias de quem cabe geri-las mas no fundo, toda a economia, não só aquela onde a área de actuação da empresa se insere mas a economia de uma forma geral. E são essas médias empresas que sustentam a dita “classe média”. Ora sem essa classe média, a sociedade fica sem um dos seus pilares fundamentais e também ela fica desestruturada.
Estamos a falar de pessoas que pertencem à geração de 60/70 e olhando para trás, vemos famílias com valores intrínsecos que os passaram a estas pessoas. Mas esses mesmos valores não se reflectem na actuação dessas pessoas que agem desde logo sem nenhum profissionalismo o que por si só já é grave que chegue.
As pessoas falam dos políticos e da sua falta de ética e moral mas também estas pessoas não parecem ter muita. Onde se perderam então os valores e os princípios? O que se passa com a sociedade portuguesa?
E essa pergunta assume ainda mais relevância quando olhamos para as gerações de 90 – que eu carinhosamente distingo entre “Morangos com Açúcar” do lado dos financeiramente mais afortunados e os subsídio-dependentes do outro e a esses cabe educar e servir de exemplo aos seguintes que eu denomino de “Filhos do dinheiro” por um lado e “ Filhos do palavrão” por outro. E onde vou eu buscar estes cognomes?
Por um lado à “famosa” série que invadiu um canal português por tempo indeterminado e cujos personagens espelhavam bem os jovens a quem atribuo essa designação e em contraponto tínhamos o avanço da subsidío-dependência de onde saem os outros jovens. Já na altura eu dizia que ia ser pior que um choque de titãs o que aconteceria quando estas realidades se cruzassem.
Há dias em conversa com uma professora amiga, ela deu-me conta da realidade dos jovens actualmente e foi dessa conversa que eu retirei os cognomes. Se não vejamos os exemplos que ela cita: por um lado, um jovem mais abastado faz questão de demonstrar a outro que não tem as mesmas posses “que pode adquirir um determinado bem porque os seus pais têm dinheiro para lho proporcionar enquanto o outro jovem não tem, e por vaticínio do primeiro, nunca terá” enquanto os jovens mais carenciados usam o palavrão como se de uma vírgula se tratasse e só respondem a esse mesmo chamamento. Se uma pessoa lhes dirigir um “por favor” eles agem como se de um dialecto estranho se tratasse mas tratarem-se por “filhos desta e daquela” já é algo que eles reconhecem com a maior naturalidade e usam esse mesmo tratamento para qualquer humano que com eles se cruze independentemente de ser jovem ou adulto, professor ou outra coisa qualquer. Se por um lado faltam os padrões de educação, por outro faltam os padrões morais mas em ambos faltam os padrões de civilidade, aquele palavrão que usei e apresentei logo no início do texto.
Ora isto deixa-me com um misto de perplexidade e preocupação. Eu defendo e acredito que os jovens de hoje são os profissionais do futuro. Mas nestes casos, se a geração de 60/70 foi criada com ética, rigor, educação e padrões de moral e arriscaria mesmo dizer que com civilidade e hoje se tornam empresários que lesam o Estado e os funcionários para comprarem um carro topo de gama ou uma “gaiola dourada” e dormem descansados sem qualquer sinal de preocupação que não seja que a caixa da empresa produza o suficiente para lhes pagar o próximo luxo a que eles consideram que têm direito, o que acontecerá ao País com as gerações de 90 e 2000?!
Empresas médias não haverá porque os seus antecessores já deram cabo delas, com sorte não vão herdar dividas, criar novas não acredito que tenham capacidade. O que farão mas principalmente, como? Até onde estarão dispostos a ir? E os outros desgraçados? Como serão absorvidos pela sociedade?
O gap geracional que separa toda esta gente não é maior do que a perda a que podemos assistir e talvez esteja na altura de olharmos para dentro de nós e para a sociedade com “olhos de ver” e tentar salvar alguma coisa porque hoje, do alto da minha idade eu afirmo que tenho receio de ter estes jovens a mandar seja onde for e tenho medo do que os que estão na outra ponta da corda possam fazer para sobreviver. Mas mais grave do que tudo isto, estes jovens serão os Pais e Mães do amanhã… Que espécie de filhos criarão?
Vale a pena parar e pensar um pouco antes que seja tarde de mais. Digo eu que gosto de observar o Mundo que me rodeia e aprender com ele sempre que me é possível.
Luisa Vaz
(A autora não usa o Acordo Ortográfico)