Ontem, dia 21 de Março de 2016 foi um dia histórico para a Política e para a Diplomacia internacionais e em Portugal apesar de amplamente divulgado nas televisões, no universo das redes sociais pouco ou nada fala sobre isso. Ficará isto a dever-se ao facto de termos presentemente um Governo de Esquerda, ao facto de não nos importarmos com o que se passa à nossa volta ou só estaremos habilitados a avaliar as notícias da Lusofonia?
Seja qual for o motivo, nenhum deles é obviamente válido. Depois de quinze meses de negociações secretas entre os dois Estados, foi, na passada Segunda-feira, levada a cabo a primeira visita oficial de um Presidente norte-americano a Cuba desde o embargo há 88 anos atrás.
Nesta visita oficial de três dias vai ser possível ao Presidente Obama, que foi muito bem recebido pela população ao contrário do que se passou em Little Havana em Miami onde foi caricaturado e apelidado de “castrista” e mais uns epítetos simpáticos, juntamente com a sua comitiva fomentar as relações comerciais entre os dois países sendo que – talvez por uma questão protocolar – foi recebido à chegada ao aeroporto de Havana pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros e não por Raúl Castro. A questão fica no ar, foi uma forma de Castro não mostrar subserviência aos Estados Unidos da América ou é tão-somente assim que dita o protocolo cubano? Quem está habituado a viver em Democracia não compreende muito bem certas posturas de outros regimes.
Havia claramente emoção nas ruas, as “Damas de Branco” – grupo de mulheres que exige a libertação dos que são considerados “dissidentes” não abdicou da sua marcha semanal e tem um encontro agendado com o Presidente Obama e acredito que essa emoção tenha passado pelo filtro da televisão para os telespectadores que acompanharam em directo a chegada da “liberdade” a Cuba. Há dias ouvi numa reportagem um cidadão cubano dizer: “ com o fim do embargo vou poder cumprir o meu sonho de abrir um restaurante porque os existentes são todos pertencentes ao Estado.” E eu já critico o nosso por estar nos transportes..que faria…
Realmente o fim do embargo trará por certos muitas vantagens não só bilaterais, como continentais, pelo menos. A nível de Turismo essa expressão será a mais alargada. Há muito que Cuba é bastante procurada para férias pese embora o perigo presente fora das estâncias balneares (e isto é para quem tiver capacidade de passar férias num resort sabendo que “há pessoas a morrer de fome do outro lado dos muros”…
Ainda nesta matéria convém salientar que já está em marcha uma negociação com a Google para que Cuba possa ter Internet e cobertura de wi-fi (há quem possa argumentar que um povo desenvolvido tem que ter acesso à internet mas olhem bem para nós..temos Internet em tudo quanto é sitio e continuamos a anos-luz do Mundo desenvolvido.) Para mim haveria outro lote de prioridades mas pelo visto este não é o único contracto em cima da mesa. Uma fábrica de tractores do Alabama, dos Estados Unidos, portanto, também vai ser a primeira a abrir uma filial em Cuba e isto fora os avultados investimentos em Turismo e infra-estruturas. De salientar que a brasileira Odebrecht foi a responsável pelas obras no Porto de Havana. Não parece nada de importante mas onde começa a Solidariedade e a Liberdade e terminam as negociatas?
Torna-se estranho, pelo menos para mim, que o Presidente Obama afirme que a Google já está a iniciar negociações quando o embargo para ser levantado tem que ser decidido pelo Congresso (que neste momento é Republicano e portanto nada favorável a esta alteração) e pela Casa Branca que também não vê esta situação com bons olhos. Sem o levantamento do embargo, nada ou pouco é possível. Deve no entanto salientar-se a mudança no discurso quando posteriormente afirma que estas situações só acontecerão ao longo do tempo mas é expectável que venham a acontecer.
Convenhamos que o restabelecimento das relações diplomáticas entre os Estados Unidos da América e Cuba são de suma-importância e só pecam por tardias. O povo cubano possui uma Educação de excelência e está em destaque em áreas como a Informática e a Medicina e conseguirá acompanhar sem problema esta “onda de progresso” que o invadirá, esperemos que mais cedo do que mais tarde.
Na Conferencia de Imprensa onde estiveram presentes os Presidentes Obama e Raúl Castro, se por um lado foi notável o à-vontade do primeiro, foi também notável e desconcertante a falta de à-vontade do segundo mas mais do que isso e por mais que haja pontos que os aproximem, a forma como encaram valores como a Liberdade de Expressão e os Direitos Humanos, tornam esta reaproximação em algo bastante complicado. De todo em todo, os Estados Unidos da América têm muito com que se preocupar “dentro de portas” e deveriam ponderar abandonar a postura de Guardiões da Democracia deixando de usar o seu poder e influência para obrigar todos os outros povos a adoptar o mesmo sistema político. Eu sou absolutamente democrática e da ala mais liberal que esta possa conter mas admito que os Povos do Mundo não são todos iguais e que havendo vários sistemas políticos, até por uma questão cultural, demográfica e geoestratégica, há modelos que se podem adequar a umas sociedades e não a outras e os Estados Unidos dada a sua diversidade cultural e as suas origens deviam compreendê-lo melhor que ninguém em vez de assumirem o papel de exterminador de outros regimes que não o Democrático.
No entanto, a teatralidade da família Obama deixa um pouco a desejar. Que os políticos se aproximem das populações, estou totalmente de acordo mas participar em episódios de séries para adolescentes, fazer sketches com comediantes ou tentar uma versão moderna do “Dancin´in the rain” já é puxar um pouco demais pela imaginação até porque isso depois pode abrir a porta ao surgimento de um Donald Trump que não augura nada de positivo nem para os Estados Unidos nem para o Mundo em geral.
A Política é, ou deveria ser, uma arte que deveria ser encarada com total seriedade e transparência e não uma rampa de lançamento para outros quaisquer voos ou mesmo a sala-de-estar onde muitos se sentem tão bem que de tudo fazem para não mais de lá sair.
E posto isto, brindamos com uma Cuba Libre?
Luisa Vaz
(A autora não utiliza o Acordo Ortográfico)