Recuemos ao dia 1 de Março deste ano.
Pedro Passos Coelho, líder do maior partido da oposição estava a horas de se recandidatar à liderança do PSD.
Porque assim dizem as sebentas, Passos falou ao partido através da televisão, mas ao falar ao partido também falou ao país.
Nessa entrevista a uma estação de televisão, nesse dia 1 de Março deste ano, Passos fez uma promessa, e o país ouviu.
Quase 9 meses depois eu lembro essa promessa.
O presidente do PSD, que foi reeleito no partido, após ganhar as eleições legislativas – totalmente diferente de ganhar eleições “para primeiro ministro “-, enfrentava nessa altura uma situação ímpar na história da democracia; tinha ganho essas eleições, mas o paradigma tinha mudado, tinha virado à esquerda, e isso nem o mais prevenido podia antever.
Era preciso reconquistar o partido (o que era o mais fácil) e bater-se com o novo executivo, a “Geringonça”, o que se revelou impossível, até hoje.
Passos, disse-o nessa entrevista, esperava que “o governo lá possa estar estes quatro anos”, mas duvidava “que a estratégia orçamental do PS funcione”.
Neste momento, a estratégia era do PS, mais à frente o PCP e o BE são também mencionados, repare o cambio;
“Caso funcione (a estratégia orçamental do PS), passaria a defender o voto no PS, PCP e BE”.
Foi uma garantia que deu, na entrevista, e que eu replico, nove meses depois, porque não gosto que brinquem com a minha inteligência.
O antigo primeiro ministro fez uma promessa que deve estar a ver como a vai cumprir.
Se não a cumprir não vem mal ao mundo.
Pedro Passos Coelho, enquanto primeiro ministro, não cumpriu uma promessa feita aos seus concidadãos. Cumpriu todas as promessas que fez aos credores, aos mercados, aos comissários e aos alemães.
Tê-las há feito, no segredo dos gabinetes. É a conclusão a que chego.
Porquê?
Porque Vitor Gaspar, Carlos Moedas, José Luis Arnaut, António Borges e outras sombras tinham as suas missões claramente definidas.
Passos foi apenas o peão de brega.
É a minha convicção.
Senão repare, passou pouco mais de um ano desde que a “Geringonça” (acho o termo extremamente rasteiro) começou a governar o país, finalmente.
Um ano.
Não ouvimos nunca notícias de que tenha chovido euros em Portugal neste último ano.
Mas, ouvimos Passos dizer nessa entrevista, a 1 de março deste ano que, “se pudéssemos todos, sem dinheiro, devolver salários, pensões e impostos, e no fim as contas batessem todas certo, isso seria fantástico”.
Passos e a sua costela comunista, porque nisto de cassetes, cada qual tem a sua música preferida, embora seja sempre a mesma.
Só que Passos nunca acreditou que a era pós-tortura fosse fantástica.
“Quando voltamos aos velhos hábitos é muito possível que os resultados possam não ser bons como foram no passado”, sublinhou.
“O que os governos mais gostam é de poder ter políticas que agradem aos seus eleitores”, no entanto, “para poder devolver os salários todos num ano e cumprir as metas, ou há um milagre, ou há consequências”.
Exactamente como Passos fez, a diferença é que Passos mentiu, porque não cumpriu. Se não tinha garantias não podia prometer, bem sei que estava em campanha eleitoral, dá igual.
E, chegamos ao ponto-chave, as consequências que o antigo primeiro ministro referiu nessa entrevista.
O PIB português, diz o INE, aumentou 1,6% no terceiro trimestre, face ao mesmo período do ano passado, quando Passos era primeiro ministro.
Em cadeia, a economia portuguesa cresceu 0,8%.
Os mercados ficaram surpreendidos.
A Comissão Europeia e os comissários também.
Há quanto tempo não se vê nem ouve a imagem e a voz dos irritantes e odiosos Merkel e Schauble?!
Provavelmente, também eles estão surpreendidos, e em silêncio, que vozes de burro só chegam ao céu quando os coelhos saem da toca.
Bruxelas deu luz verde ao Orçamento do Estado para 2017, à primeira, tal como o Presidente da República.
Há muito que Portugal não tinha um OE constitucionalmente aceite, à primeira, isso diz muito de muito.
Ficaram todos surpreendidos.
Até o comissário Carlos Moedas, ex-governante e próximo de Passos Coelho, que após a “comissão de serviço” foi premiado com Bruxelas e por Bruxelas, já disse que “Portugal está pela PRIMEIRA VEZ no bom caminho”.
Creio que não são precisas mais palavras, nem para descrever o actual momento de viragem, nem para descrever a pouca-vergonha.
O Colégio de Comissários (nome cheio de dignidade e pompa) reuniu e chegou à conclusão que os procedimentos do défice excessivo de Portugal devem ser suspensos, anulando o congelamento de quaisquer fundos estruturais, o que abre mais o horizonte.
Talvez estejamos perante o melhor défice do país dos últimos 42 anos.
Junte-se a isto a autorização da Comissão Europeia para a capitalização a 100% da CGD, a queda do desemprego e as esmolas que o governo começa a dar, embora uma esmola seja sempre mais que um saque e, Passos, mesmo na oposição, tem um problema sério para resolver (incrível, não é, nem assim);
Passos deve explicar porque disse: “quando voltamos aos velhos hábitos é muito possível que os resultados possam não ser bons como foram no passado”, é que, tal como fez aquando do processo eleitoral, “o que os governos mais gostam é de poder ter políticas que agradem aos seus eleitores”.
Milagre não houve, e as consequências foram estas.
Então, o que mudou em um ano?
Mudou tudo, o governo Português tem muitos amigos na Europa, não baixa a cabeça, sabe o que diz e como faz, e Bruxelas gosta disso, mais do que dos “yes men”, bom, se calhar não gosta, mas tem que comer.
Tal como Passos, que agora bem podia começar a pensar em apelar ao voto no PS, no PCP e no BE, como prometeu publicamente, ficava-lhe bem e era coerente.
Foi uma promessa que fez, no dia 1 de março deste ano.
Bem sei que Passos nunca cumpriu uma promessa feita aos seus concidadãos, mas ficava-lhe bem cumprir esta promessa, talvez atenuasse a nulidade política que é.
Cada vez mais.