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“Somos efectivamente um partido de massas”

«Somos efectivamente um partido de massas com a sua organização própria, em que são os militantes quem manda, digamos assim, no partido: não é nenhum grupo de notáveis, não são os deputados.» (Francisco Sá Carneiro).

«O que é preciso é que se acabe com os mitos, e que, em lugar de termos políticos vanguardistas que defendem grandes slogans e grandes ideologias, tenhamos vontade de aprender com os portugueses o seu dia-a-dia, os seus problemas concretos e com eles, com a participação de todos, ir encontrando soluções.» (idem, em 19-05-1979, Discurso no encerramento do Encontro das Autarquias Locais da Área Metropolitana de Lisboa – Vila Franca de Xira).

Perguntar-me-ão, “Porquê tais citações”?
Com efeito, a escolha de tais citações, naturalmente, não foi despropositada. Tais apresentam-se perfeitamente contextualizadas com o estado do processo eleitoral autárquico que vem sido seguido pelo meu PPD/PSD para a luta pela Câmara Municipal de Lisboa.
Entre uma escolha – completamente despropositada, em abono da verdade! – para encabeçar esta luta, personalizada pela (actual) vereadora, Teresa Leal Coelho, a mais faltosa da edilidade a que concorre, não deixa de ser curioso que a (agora) candidata à autarquia de Lisboa – e sua vereadora (mesmo com esse título de «a mais faltosa!»), tenha sido cabeça-de-lista, nas eleições legislativas de 2015, por… Santarém.
Confuso?
Não!

É apenas uma constatação. De tão óbvia que é, concluo que o meu PPD/PSD (porque a realidade dos outros, sendo idêntica, passa-me ao lado!), subverteu completamente a 1.ª citação de um dos seus fundadores, Francisco Sá Carneiro. Apresentando-se uma manta de retalhos, de “notáveis” para abraçar toda-e-qualquer-luta-político-partidária, acredita conseguir atrair o voto no PPD/PSD, bastando-se com o popularucho mediatismo, que a figura A ou B ou C possa gozar.

Algo estará muito mal dentro de um partido, com toda a riqueza histórica que o PPD/PSD carrega, quando a vontade de aprender com as massas, as pessoas reais, locais, conhecendo o seu dia-a-dia, os seus problemas concretos e com eles, com a participação de todos, ir encontrando soluções, passa para um plano a desconsiderar. (Já aqui voltarei.)
Pergunta: pegando no exemplo de Teresa Leal Coelho, como cabeça-de-lista por Santarém, um cidadão-eleitor, residente na área distrital de Santarém, estaria mesmo tentado a votar no meu partido, quando, analisando a listinha de candidatos não encontra um mínimo (por muito que tente!) de identificação com a sua 1.ª escolha?
Condimentando tal com o facto de que a cabeça-de-lista nada tem que a relacione com a área geográfica que lhe garante(iu) o cargo de deputada da nação, mesmo aqueles que tenham votado no partido (por imperativo de consciência?), não se sentirão defraudados com a listinha que o partido cozinhou para Santarém? E quem diz Santarém, diz, praticamente, todas as outras listinhas cozinhadas com “notáveis”. Notável é o desprendimento da estrutura nacional com a realidade…
Passemos agora para um caso de listinha local. Aliás, o propósito, deste desabafo.
A escolha de Teresa Leal Coelho, para a encabeçar a luta pela CML (e prometo não comparar com a generalização que o descontentamento, por me sentir burlado, que o saltinho de poleiro-em-poleiro me suscita!), atropelando, praticamente, toda a estrutura local do partido, além de representar notoriamente uma “escolha de último recurso”, tem o condão de rebentar com o crédito que a estrutura local (e alguma mais-valia que poderia representar na luta político-partidária que se avizinha) pudesse gozar junto da comunidade de eleitores/simpatizantes lisboetas do PPD/PSD.
Pergunta: “Porquê”?
De antemão, é certo que, para Lisboa, por exemplo, a escolha da cabeça-de-lista, encontra respaldo, estatutariamente falando, num poder, próprio, que o líder do partido tem para avocar a decisão da escolha sobre o processo autárquico para sua direcção. Sendo pessoa de confiança do líder, mesmo que não seja, de todo, do eleitor, esta escolha tem um fundamento lógico: a relação de amizade entre ambos. Porém, como se viu ainda ontem, à custa desta amizade, o presidente da concelhia do PSD de Lisboa, Mauro Xavier, e o presidente da mesa da assembleia, Fernando Seara, demitiram-se dos seus cargos.
Pior ainda, a estratégia que, naturalmente, poderia, e deveria, ser seguida – em teoria, dever-se-ia considerar o facto de as estruturas locais melhor conhecerem o terreno e as massas, e, com base nisso, abordarem a luta com essa (relativa) vantagem, já que cada vez mais o passeio de bicicleta de Fernando Medina está garantido face a tanta trapalhada interna do psd – e que, certamente, estaria preparada, foi destruída depois de a senhora candidata – imposta pelo líder – na sua soberba típica, ter excluído, pelo menos 7 (SETE) dos nomes propostos pelo aparelho local para esta luta, e imposto as suas 24 (VINTE E QUATRO) escolhas para a listinha.

A lógica Sá Carneirista de ter acima de tudo em consideração os interesses do nosso povo, postos acima dos interesses do partido, novamente, surge francamente arrasada. O lamento de, por exemplo, Rodrigo Gonçalves: «“Lamento que Teresa Leal Coelho e Pedro Passos Coelho tenham excluído nomes de grande qualidade indicados pelo Núcleo Central do partido, seguindo os estatutos. Não percebi os critérios de exclusão, uma vez que alguns deles são nomes que têm eventualmente até mais currículo do que a candidata à câmara de Lisboa”», apenas reforça este arraso.
Acaba por ser cansativo, concedo, estar sempre a bater nesta tecla: o actual partido, como está, como se apresenta, não serve ao País. Não sou eu que o digo. São os exemplos, como estes, com que a estrutura nacional nos presenteia. Trago aqui dois. Só dois. Até para não dar demasiados trunfos aos nossos adversários. Mas, caramba, só Lisboa, só nesta trapalhada interna para a Câmara Municipal de Lisboa – e uma vez mais – contrariando a sabedoria de um dos seus fundadores, de Franciso Sá Carneiro, o partido presta-se a sucumbir à soberba dos mitos, perdendo a vontade de aprender com os lisboetas o seu dia-a-dia, os seus problemas concretos e com eles, com a participação de todos, ir encontrando soluções.


Um partido de massas com a sua organização própria, em que são os militantes quem manda?
Não mais!


É apenas um partido de mitos e notáveis. Urge pois re-centrarmos o PPD/PSD na sua génese identitária. “Somos efectivamente um partido de massas”!
Só assim poderemos esperar regressar ao poder!

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