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Educação – Escolhas e Critérios

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Por estes dias decorre a Futurália na FIL, a Feira do Ensino Superior onde os jovens candidatos podem recolher informações sobre os cursos, apoios e tudo o que concerne a entrada no Ensino Superior. Segundo a reportagem que vi, a procura aumentou bastante na edição que agora decorre.

Ao ver todos aqueles jovens, uma dúvida imediatamente atravessou a minha mente: mas onde é que nós vamos colocar toda aquela gente, todas aquelas crianças, que agora graças a uma “brincadeira de mau-gosto” a que chamaram Bolonha, em cinco anos sai Mestre em qualquer coisa?

Chamo-lhes crianças por uma razão muito simples. Também eu frequentei o Ensino Superior, não se pense que tenho algum estigma com isso mas no meu tempo, os cursos tinham uma duração maior e as especializações – Mestrado ou Doutoramento – eram tiradas ou no caso de a carreira profissional exigir uma especialização ou no caso de um docente precisar de aumentar o seu portfolio de conhecimento para poder continuar a ensinar, por exemplo.

Isto pressupunha maturidade, experiência profissional e conhecimento acumulado para além do simplesmente académico. Ora uma pessoa que estudou toda a vida, que não conhece o mercado de trabalho e que tira uma Licenciatura ” à la minute” não tem ( à partida) maturidade para encarar as matérias de um ciclo de estudos mais elaborado quanto um Mestrado. Mas como as Universidades precisam da sua renda fixa, há que agregar e obrigar os alunos a só terem o ciclo de estudos completo com o grau de Mestrado e os alunos assim fazem. Tudo isto sem falar na discrepância que há para quem tem Licenciaturas de cinco anos onde aprendia muito mais e com muito mais detalhe.

Outra das questões, e esta prende-se com os critérios, tem a ver com as modas. Já foi moda ser: designer, enfermeiro, marketeer, advogado, engenheiro e sei lá mais o quê. Qual é a moda deste ano? Qual vai ser o curso que vai ser invadido por que é o que está na moda? Eu gostava de saber..

Essa estória de “ai..toda a vida sonhei ser isto ou aquilo” é algo que já não faz o mínimo sentido. Qualquer pessoa que por esta ou aquela razão ambiciona ou considera que tem capacidade para terminar um ciclo de estudos superiores deve ter duas coisas em atenção: as suas aptidões e o mercado de trabalho e estar disposto a adaptar-se e isto não seria difícil se Bolonha não fosse uma forma de obrigar os alunos a tirar Mestrados caríssimos.

Torna-se um pouco frustrante para quem tem a sorte de conhecer outras realidades que se veja que a opção da União Europeia tenha sido um modelo tão fraco e tão displicente.

Eu, por uma questão pessoal, vou apresentar o modelo que melhor conheço pois tive oportunidade de o experimentar. Não ouvi falar nem li teorias sobre ele, sei que existe e sei que funciona – o Modelo Austríaco.

E como funciona o Modelo Austríaco? Pois de uma forma muito simples. Dá-nos a possibilidade de fazermos as chamadas “Licenciaturas Duais”, lembram-se deste termo utilizado por Álvaro Santos Pereira? Dão-nos a possibilidade de enriquecermos o curriculum quer com actividades, quer com Seminários, Palestras e similares, dão-nos um determinado tempo para terminarmos o ciclo de estudos mas dão-nos liberdade para o ir construindo ano a ano podendo os estudantes fazer mais cadeiras num semestre do que no outro consoante trabalhe, por exemplo. O que importa é que as metas sejam cumpridas e o aluno aprenda. A juntar a tudo isto, todas as Universidades existentes são públicas, contêm um conjunto de Faculdades de várias áreas mas nenhuma existe em mais nenhuma cidade do País. Há uma Universidade por capital de região, há sete regiões, há sete Universidades portanto quem se candidata sabe para onde vai e sabe qual o grau de exigência da Licenciatura que se propõe terminar podendo no entanto adaptá-la às suas aptidões ou ao percurso profissional que queira traçar. Isto meus caros, é Bolonha, ou deveria ser. O resto, é negócio puro e simples.

Agora as escolhas..Não só as que são feitas sem qualquer critério que não o retorno financeiro do investimento ou o estatuto que determinadas profissões atingem mas também e inevitavelmente, as politicas porque quer queiramos quer não, elas estão intrinsecamente ligadas.

E onde é que está o erro? Façamos uma rápida retrospectiva..o erro está no 26 de Abril de 1974 na perspectiva pseudo-burguesa de que todos deveriam ser doutores e na idiotice que foi acabarem com a vertente técnico-profissional que depois de forma errónea se tem vindo a tentar implementar aqui e ali sem resultados. E depois temos a lata de nos queixar..nós somos realmente um povo sui generis..

Todos queremos que os nossos filhos sejam Srs. Doutores tratados por Vossas Excelências e que sigam o sonho da época em que nem sequer sabiam falar mas queremos pagar pouco (ou de preferência nada) pelo electricista, pelo canalizador, precisamos de um carpinteiro e isso é uma profissão do século passado..E porquê? Porque a sociedade foi pensada da forma errada (ou não foi pensada de todo) e porque a essência burguesa do tempo da monarquia se colou no português como uma segunda pele que insiste em não querer ser arrancada.

Como se resolve o problema? Olhando com realismo para a situação, fazendo um levantamento das reais necessidades de empregabilidade deste País, fechando cursos ou até Instituições onde necessário e no Secundário dando a possibilidade aos jovens de experimentar outras realidades profissionais sem preconceito. Parece assim tão difícil? A mim não, parece-me até bastante fácil mas é necessário abanar o status quo e como todos sabemos, isso é muito mas muito chato…

Luisa Vaz

(A autora não utiliza o novo acordo ortográfico.)

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