O artigo de Norberto Pires surpreendeu-me muito agradavelmente pela forma exaustiva e clara como nomeou as questões essenciais. Subscrevo-o e inibo-me por isso de acrescentar redundância a esta discussão. Permito-me apenas chamar a atenção para uma questão que me tem incomodado: a forma como nas redes sociais, a discussão sobre este assunto também se deixou arrastar por uma querela ideológica entre a escola pública e a privada, reforçando assim a perspectiva que a direita tem tentado tornar prevalecente nesta discussão.
Discutir esta questão do ponto de vista ideológico de uma direita ou de uma esquerda parece-me um despropósito que tem dado origem a uma situação muito insólita: podemos ao limite encontrar uma defesa que a direita faz de um maior intervencionismo do Estado nas dinâmicas privadas, ao mesmo tempo que podemos deduzir uma apologia que a Esquerda faz de uma não intervenção do estado. É claro que as questões são mais complexas porque num segundo momento temos de reconhecer que o que estará em causa é a defesa ou ataque a um determinado tipo de negócios entre o Estado e os Privados ( numa configuração muito semelhante às muito conhecidas parcerias público privadas).
Ora se o Governo já afirmou que o que pretende rever é os contratos de associação um a um, mantendo aqueles que são necessários, esse objectivo deveria congratular as forças de direita que acham que o Estado é despesista, que não controla os seus recursos, que gasta o que não tem. Por outro lado, como o demonstra de forma cabal Norberto Pires, trata-se de uma percentagem tão pequena e tão específica do ensino privado que não faz nenhum sentido generalizar uma determinada atitude do Governo contra o ensino privado. A menos que se queira tomar partido disso.
Por outro lado, muitas pessoas que se assumem de esquerda têm também produzido um ruído notável sobre este assunto dizendo que o Governo não tem nada de se preocupar com a situação das escolas privadas e que quem quer colocar os filhos no privado, deve pagá-los criando um conjunto de falsas ideias sobre a importância do ensino privado para a diversidade de práticas no ensino e para a criação de novos modelos pedagógicos, dando a entender que a direita está cheia de razão quando utiliza esta questão como uma bandeira ideológica.