Com o aproximar das Eleições Autárquicas, e muito naturalmente, começam a formar-se as chamadas candidaturas independentes, sobretudo às Câmaras e às Juntas de Freguesia.
No próximo acto eleitoral serão centenas e centenas acrescerem e a multiplicarem-se por todo o País, desde o interior mais remoto ao hiper-povoado litoral. No entanto, dessas centenas e centenas candidaturas, muitas poucas serão genuinamente independentes.
As candidaturas genuinamente independentes são compostas por cidadãos, sem ligações partidárias, que em conjunto decidem construir um projecto de governo territorial para as suas Freguesias e/ou Municípios. Essas candidaturas são excepcionalmente meritórias, porque resultam da vontade e do esforço desses cidadãos, que livremente, decidem arriscar, contra o establishment, dispensando qualquer apoio de natureza partidária, e disponibilizar aos seus próprios conterrâneos uma via alternativa às tradicionais, oferecidas pelas listas partidárias (isoladamente ou em coligação). Essas candidaturas enfrentam muitas dificuldades em termos de competição eleitoral, quer por questões de índole administrativa e burocrática quer pelas questões de financiamento. No entanto, e quase paradoxalmente, são essas dificuldades que enfrentam que testemunham aos eleitores a sua verdadeira independência e genuinidade.
Depois existem as outras candidaturas alegadamente independentes que são um verdadeiro logro para os cidadãos eleitores.
Há várias dessa natureza. Umas são encabeçadas por cidadãos sem filiação partidária, mas que integram listas partidárias; outras são encabeçadas por cidadãos sem filiação partidária, mas que fazem acordos com partidos políticos, integrando nas suas listas cidadãos filiados nesses partidos, beneficiando das máquinas e da capacidade financeira desses mesmos partidos; outras são encabeçadas por cidadãos sem filiação partidária que se oferecem aos partidos, assegurando-lhes integração de filiados nas suas listas e assumindo eles mesmos a despesas decorrentes das campanhas eleitorais, sendo esses candidatos alegadamente independentes muito ricos ou representantes incógnitos de interesses económicos com necessidade de condicionamento do poder político.
Essas candidaturas alegadamente independentes vivem sempre momentos dramáticos e cómicos. São os momentos em que os cabeças de listas alegadamente independentes fazem tudo para esconder o apoio partidário que recebem (financeiro e/ou logístico) e em que os partidos que apoiam (financeiramente e/ou logisticamente) fazem tudo para colar esses cabeças de lista aos seus próprios partidos.
Essas candidaturas alegadamente independentes – nos vários formatos que referi – partilham, no entanto, três coisas umas com as outras: todas são uma negociata; todas pretendem enganar os eleitores – a sua alegada independência é uma espécie de “estória da Carochinha”, escrita com o propósito impossível de enganar a História –; e todas testemunham a debilidade cívica da nossa Democracia.