Pedro Passos Coelho foi daqueles que nunca acreditou no sucesso da fórmula governativa criada por António Costa que juntou pela primeira vez na história da democracia portuguesa toda a esquerda. Passos apostou as “fichas” todas na rápida desagregação da “geringonça”. E este foi o seu grande erro político.
Passos apressou-se rapidamente a anunciar o regresso do diabo – a troika – mas a esquerda percebeu e bem que o diabo afinal poderia ser o próprio Passos Coelho se a solução governativa fosse firme e tivesse sucesso. Os dias foram passando, os meses também e a geringonça já tem mais de um ano de governação com aparente sucesso e o apoio maioritário dos portugueses.
Pelo meio tomou posse o novo presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que tudo tem feito para manter estabilidade política no País. Em algumas situações pareceu-me mais socialista que alguns socialistas, nomeadamente agora no caso da Caixa Geral de Depósitos fazendo a defesa da manutenção no governo de Mário Centeno.
O problema de Passos Coelho e do PSD é que nunca suportaram a ideia de terem sido afastados do poder apesar de terem ganho as eleições. Mas a Democracia é assim mesmo e conseguiu chegar ao Governo quem conseguiu apresentar a solução governativa mais estável. E esta foi apresentada e criada por António Costa.
António Costa inaugurou um novo tempo na política portuguesa. É justo reconhecer que teve o mérito de congregar à sua volta o que nunca ninguém tinha conseguido no passado. A política é muitas vezes feita de diálogo, pontes e congregação de vontades. António Costa tem esse inegável mérito.
Desde a noite de 5 de Outubro de 2015 que Passos Coelho e a sua pequena entourage enfiou-se no bunker e vivem desfasados da nova realidade política e social do País. O calendário dos seus relógios continua a marcar 5 de Outubro. Apenas saíram do buraco para fazerem a sua prova de vida mas sempre sem sucesso. Foi na TSU, foi na CGD. A isto acresce tropeçarem não raras vezes em algumas minas e armadilhas que deixaram no terreno do tempo do seu Governo. A última e que ainda continua sem explicação é da saída de 10 mil milhões de euros, entre 2001 e 2014, sem o filtro da Autoridade Tributária.
Todos perceberam que o cimento da geringonça tem um nome e chama-se Passos Coelho. Da direita à esquerda portuguesa, menos o próprio Passos e os “morgados” desta vida. Marcelo foi o euromilhões de António Costa porque acrescentou o ferro que faltava para dar solidez ao seu Governo. Por sua vez António Costa teve, até ao presente momento, o mérito de juntar o cimento e o ferro e desta forma ter conseguido fazer um bom betão armado que tem sustentado a sua solução governativa.
O Bloco de Esquerda e o Partido Comunista perceberam que o seu eleitorado não lhes perdoaria se pelas suas acções este governo caísse podendo voltar a Primeiro-Ministro, Pedro Passos Coelho. Também sabem que Marcelo num cenário de uma crise política estaria ao lado de Costa. Por outro lado não querem correr o risco de António Costa, em eleições antecipadas, conquistar a maioria absoluta dispensando os seus serviços no apoio à governação do País. Por isso BE e PCP vivem nesta tripla e permanente inquietude e dúvida. Ao longo destes meses vão fazendo os seus números políticos para mero consumo interno, num faz-de-conta que Marcelo e António Costa já perceberam à distância.
Nesta nova equação política enquanto pelos menos duas das variáveis se mantiverem – Passos Coelho na liderança do PSD e António Costa no limiar da maioria absoluta – Bloco e Comunistas segurarão, em nome da sua sobrevivência política, o governo socialista. Apenas a saída de Passos Coelho da liderança do PSD poderia fazê-los reequacionar as suas posições politicas face a António Costa e ao seu governo.
Entretanto a preparação das eleições autárquicas também evidenciam um PSD cada vez mais frágil e incapaz de mobilizar pessoas de referência para as suas listas. A questão de Lisboa é mesmo paradigmática.
O mito do Passismo para ser morto e enterrado, de vez, parece-me que terá que passar por uma derrota em eleições legislativas. Parece-me que Passos Coelho vai de vitória em vitória interna até à derrota final. Depois veremos o que ainda sobrará do PSD!
Paulo Vieira da Silva