Alguns relatos dizem-nos que o primeiro-ministro, António Costa, na sua infância era carinhosamente tratado pela sua mãe, Maria Antónia Palla, como “babouche”.
Babouche que traduzido do francês para a nossa língua significa “chinelo”. Não sei se a inspiração vem da língua francesa. Só a mãe de António Costa nos poderá dizer.
O primeiro governo de António Costa funcionou sob a égide da “geringonça” que passou por um acordo de incidência parlamentar entre PS, BE e PCP.
Foi através desta fórmula política, e com o apoio do Presidente República, que o governo, com mais ou menos dificuldades, durou quatro anos.
Este namoro terminou com as últimas eleições Legislativas.
Um novo ciclo político teve início em Outubro de 2019.
Deu-se início a um novo tempo político. Com acordos de geometria variável que passou a incluir na equação o PSD de Rui Rio.
Mas isto não significou uma vida mais facilitada para António Costa e para o Partido Socialista.
Algumas reacções e atitudes extemporâneas do primeiro-ministro evidenciavam insegurança e nervosismo.
Entretanto fomos todos surpreendidos por uma pandemia e uma consequente crise económica que nos vai acompanhar nos próximos tempos.
Os tempos da pandemia inauguraram um novo tempo na vida política portuguesa.
Os novos tempos exigem responsabilidade e unidade.
Estou completamente de acordo.
Mas unidade não implica unicidade. Muito menos passarmos a viver num país de pensamento único.
O país precisa de uma oposição responsável mas tal não tem que significar concordância absoluta com as decisões e posições do governo.
Rui Rio passou a ser a caixa de ressonância do governo. Os que criticam o governo, mesmo que seja de forma construtiva, passaram a ser apelidados de alarmistas sociais e de anti-patriotas.
Depois de uma ” geringonça” o país político passou a viver sob a égide da “babouchisse”.
Confesso que me inspirei no “petit nom” com que a mãe de António Costa o tratava na infância.
O aparente sucesso no combate à pandemia tornou-se num milagre. O país passou a ser considerado um exemplo no mundo. Uma notícia do “El País” apelidou-nos mesmo de “suecos del sur”.
Um país sem oposição tornou-se rapidamente num regime político de pensamento único em que o único adversário se passou a chamar COVID-19 e a ideologia é o “vai tudo ficar bem”.
Até António Costa passou a sonhar com uma “União Nacional de Longo Prazo”.
Ou seja, isto não mais significará que o fim da alternância democrática que se traduzirá na manutenção do Partido Socialista no poder por muitos e longos anos.
Infelizmente não vai ficar tudo bem.
Entretanto vão encerrar muitas empresas, o desemprego vai aumentar de forma exponencial, os portugueses vão passar por muitas dificuldades. A retoma da economia vai ser lenta.
Para além do “milagre” tentaram-nos convencer que a pandemia era uma doença “democrática” porque atingiu de forma igual países pobres e ricos.
Nem isto é verdade. Pelo contrário.
Existiram uns que tiveram condições pessoais e financeiras para se resguardarem do vírus tranquilamente nas suas casas.
Contudo mais de um milhão de portugueses estão em suas casas em consequência do lay-off em que entraram milhares de empresas com os seus rendimentos substancialmente reduzidos.
E muitos outros tiveram que continuar a trabalhar todos os dias porque não têm um salário que lhes vá ter a casa no final do mês.
E o pós-pandemia menos democrática será porque ninguém terá duvidas que os que mais sofrerão com a crise económica serão os mesmos de sempre.
Os mais pobres, os mais frágeis e os mais desfavorecidos.
O que nos é vendido todos os dias, a toda a hora pelas televisões, não passa de propaganda do governo.
Mais dia, menos dia, os portugueses terão a percepção que o “milagre” que nos é vendido como acesso ao “paraíso” infelizmente vai-se tornar num “inferno” de vida para muitos dos nossos concidadãos.
A “geringonça” não passou de um adiamento de forma colorida dos verdadeiros problemas do país.
Mas a “babouchisse” não nos reserva tempos melhores.
Gestor de Empresas – Licenciado em Ciências Sociais – Área de Sociologia
(Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico)