O governo da Argentina mantém há mais de uma década, uma disputa em tribunal com os fundos “abrute” que recusaram a reestruturação das obrigações da divida pública impostas a todos os credores daquele país em 2001. A declaração unilateral de bancarrota e o incumprimento do serviço da divida junto do principais credores teve um impacto na economia na ordem de 200 mil milhões de euros, reflectindo-se na perda de 2 milhões de postos de trabalho. Além disso, sem acesso aos mercados financeiros, desde então, o governo argentino foi cobrindo os défices com recurso à impressão de moeda, o que levou a que a inflação atingisse valores superiores a 10%, entre 2001 e 2015, corroendo o poder de compra da população e duplicando a faixa da população em situação de pobreza. Numa altura em que o governo de António Costa é sustentado por dois partidos que defendem a reestruturação da dívida pública de forma agressiva junto do parceiros europeus, convém salientar as eventuais consequências que uma postura desse tipo teria para um país como Portugal. Para além, de constituir um exemplo, de um caminho tentador que não devemos seguir, é preciso lembrar que Portugal encontra-se hoje, numa situação muito mais vulnerável do que a argentina de 2001, uma vez que a nossa divida pública, em percentagem do PIB é bastante superior e a nossa dependência dos restantes países europeus é muito maior, sobretudo ao nível comercial.