Podem não acreditar…Mas é verdade.
Eu andava deveras preocupado com Leonor Beleza… Pouco se sabia dela desde que tinha sido atirada para a reforma dourada da Fundação Champalimaud… Logo uma área da qual ela não percebe patavina.
Imagino as noites e noites perdidas a tentar estudar pelo menos o básico da célula, dos centríolos, dos diplossomas, das mitocôndrias e todas aquelas noções e designações puramente científicas… é que ainda por cima os nomes não são nada fáceis e a senhora já não vai para nova.
Dir-me-ão…pois, mas ela como Presidente da Fundação não tem que entender nem perceber…
Mero engano.
É que nos Congressos e Conferências ela, ainda que não percebendo absolutamente nada do que se está a falar, pode sempre do seu lugar de Presidente colocar um ar esfíngico, muito idêntico ao que sempre usou na função de Ministra mas, como eu dizia, nas conferências usando o tal ar que pode ser sempre colmatado com um olhar em profundidade, em direcção ao horizonte, como se embrenhada num qualquer raciocínio doutoral ou no mínimo doutoresco, porque o título não o tem e a coisa rola…a máscara resultará, na maior parte dos casos.
O problema, mesmo é o dia a dia… lidar em proximidade com todos aqueles cientistas. Aqueles biólogos, aqueles farmacologistas e os médicos e a sua eterna vontade de explicar aos vulgares mortais a essência do tudo e do nada?!
Era isso que verdadeiramente me preocupava.
Até porque sempre foi conhecido o terrível feitio da Senhora em situações normais…imagino a que potência não terá sido elevado vendo-se, com soi dizer-se, “grega”, que é como quem diz, a não perceber absolutamente nada e, parafraseando um ex Ministro, não entendendo “um pentelho”… imagino o quão dolorosa lhe terá sido a experiência e a existência, apenas porque imperativos de subsistência…
E andava eu neste tão ansiógeno dilema que penso até ter sido por isso que ainda há dias me pareceu que estaria com a tensão arterial alta…umas tonturas…Bem, atirei as maleitas para trás das costas, até porque o motivo da minha preocupação era mesmo Leonor Beleza e as suas mais do que compreensíveis dificuldades de compreensão dos temas abordados e a abordar.
A existência e a subsistência não lhe estariam a ser leves…mesmo que em nome do vil metal.
E mais angustiante se estaria a tornar a situação, vendo nomes como Jorge Coelho, António Vitorino, António Mexia, Maria Luís, tantos e tantos outros e mais recentemente até Paulo Portas a “governar a vida” e Leonor a ficar para trás…
E sabemos bem que em Portugal quem não aparece, esquece.
Eis senão quando, o meu aterrorizante dilema foi, finalmente, atenuado e consegui, enfim atingir a serena pax…e ouvi sinos e harpas celestiais.
Leonor Beleza foi nomeada para a Administração da Caixa Geral de Depósitos.
Se não estivesse em contexto público quando recebi a notícia, teria entoado variegados e legítimos hossanas.
É que na CGD o exercício da coisa pública é bem mais leve, bem mais tranquilo, bem mais calmo. E, na verdade o básico dos básicos, para o exercício da dita função será, todos o sabemos…a tabuada. Para contas mais complicadas há sempre o telemóvel à mão ou então arranja-se um assessor que faça o trabalho mais complicado…É precisamente para isso que existe a função de “Assessor”, para assessorar ou seja, para ajudar, para completar, para substituir, leia-se para fazer o trabalho sujo, quando a pessoa em questão, volto a plagiar o outro ex ministro, também aqui não percebe “pentelhos” do que se passa.
Espero é que este regresso não lhe dê asas ou vontade para uma qualquer “rodagem de automóvel” em direcção a uma qualquer Figueira de má memória…até porque os casos da hemodiálise não estão esquecidos…nem o serão.
Mas agora que estou a escrever este textinho, fui assaltado, de repente, por uma outra inquietante dúvida…
Será que vão permitir a Beleza, porque escrever “à Beleza”, convenhamos que não seria justo, acumular os dois cargos?…
Era bem mais do que justo, afirmo antecipadamente e a bem da verdade.
E as horas perdidas a tentar decorar aqueles termos da “temível” célula?
E a quantidade de cientistas com quem se teve que reunir, usando sempre a máscara da distante e incomodada cientista etérea?
E a quantidade de “hums”, de infindáveis ainda que vazios de significado acenos de cabeça, de franzir de sobrancelha, de sorrisos pretensamente enigmáticos à Mona Lisa?
Tudo isso não há dinheiro que pague e muito menos função, ainda que em acumulação.
É homérica tarefa…
Se Leonor Beleza fez todo o processo acelerado de aprendizagem biológica, qual Novas Oportunidades, ainda que pela “rama”, é legítimo que agora a deixem usufruir do exercício prático resultante da aprendizagem técnico profissional do acto de presidir a uma Fundação da qual não se percebe absolutamente nada.
Mas tenho para mim que vai poder acumular funções… bastará, para tanto, tirar daqui uns euros, pôr acolá outros, utilizar as maleabilidades e os buracos da legislação, que para isso propositadamente foram criados… e a questão ficará resolvida.
Até porque incompatibilidades horárias não existirão… as reuniões não serão muitas… anualmente.
E uma pessoa tem que trabalhar para a reforma, ainda por cima, como é o caso, quando o tempo se esgota tão rapidamente.
E é justo que um ex político se preocupe consigo próprio!
Ainda por cima quando o incomodativo óbice dos tetos salariais foi, finalmente, retirado e a situação melhorou ainda mais…
Leio que irá ser Vice Presidente da Administração mas sem retribuição…e sorrio com condescendência. A ser verdade, lá irá ter que enveredar pelas senhas de presença que, no caso, não serão, certamente, meras senhas de presença daquelas com que se compram alguns, poucos, itens numa qualquer grande superfície.
Não!
Esse risco, deveras injusto, Leonor Beleza não correrá.
Estas, a ter que ser o estratagema usado, serão Senhas de Presença debruadas a ouro e escritas com infindáveis maiúsculas…
E pronto…mais uma preocupação se extinguiu, felizmente.
À guisa de conclusão…em Portugal, quem tem amigos, mas daqueles com real Poder, não definha numa qualquer prateleira, por mais dourada que seja.
Manuel Damas
Post Scriptum: Ler com IS1 em dose que baste.
1 – Ironia&Sarcasmo