Hoje ganhei coragem. Há 523 dias que não estou com a pessoa que mais amo no mundo, a minha filha. Escrevo como forma de libertação. Libertação de uma dor e um sofrimento indescritíveis, mas de um amor puro e infinito.
Escrevo também para dar força àqueles que, como eu, mães ou pais, estão a passar por situações similares, mas que não têm voz. Que não têm esta força interior que Deus me deu. Que não têm muitas vezes dinheiro para o mais elementar da vida quanto mais para contratarem um advogado.
Por muito difícil, tortuoso ou longo que seja o caminho nunca desistam dos vossos filhos. Não por vós, mas sobretudo por eles.
Até hoje apenas a minha família, os meus amigos e os meus colaboradores mais próximos conheciam uma parte da dor e do sofrimento porque tenho passado durante estes infindáveis 17 meses.
Um sofrimento que na plenitude apenas Deus conhece.
Nem quero imaginar o quanto tem sofrido a minha filha.
Confesso que passo muitas noites sem dormir, que choro muitas vezes.
Confesso que tenho umas saudades sem fim das brincadeiras, dos beijinhos doces e dos abracinhos apertadinhos da minha menina.
Sim, a minha menina, porque irá ser sempre a minha menina.
A minha menina que não vê o pai porque este se esqueceu dela, emigrou ou morreu. Não emigrei. Trabalho apenas a cinco minutos do seu colégio. Muito menos morri, com a graça de Deus.
Ela não me vê, mas eu vejo-a. Ela não sabe, nem sequer imagina. Nem ela, nem ninguém.
Aguardo de forma anónima e discreta apenas para a ver fugazmente passar quase como se de um ladrão se tratasse que espera na esquina escondido pela sua próxima vítima.
Estes são momentos solitários. Mas sim, vejo-a. Muitas vezes. A seguir choro, muito. Não sei se de alegria, se de tristeza, mas lava-me a alma e alivia-me o sofrimento. E depois volto. Vejo-a novamente. E volto a chorar. E são assim os meus dias, as minhas semanas, os meus meses.
Nem quero que me veja porque temo a sua reacção. Não esqueçamos que é tão fácil instrumentalizar uma criança usando-a depois como arma de arremesso. Não sei o que hoje vai naquela cabecinha de uma criança que apenas tem 11 anos.
523 dias é muito tempo. Um ano, cinco meses, sete dias e 10 horas. Uma eternidade para um pai que não está com uma filha. Para mim, para qualquer mãe ou pai deste mundo.
A minha menina está quase uma mulher. Cresceu. Está mais alta. Linda e elegante como sempre foi. É a menina mais linda do mundo. É o meu orgulho. É a minha vida.
Ao longo deste tempo, que mais parece uma eternidade, fui comprando com muito amor e carinho roupa que já nem lhe serve, brinquedos e livros que certamente já nem lhe dizem nada, chocolates ou guloseimas que há muito estão fora de prazo.
Não estou com a minha filha, mas também não consigo falar com ela.
Não porque o Pai não se tenha cansado de tentar telefonar ou de enviar mensagens.
Não porque não tenha um telemóvel – penso que seja o mesmo que lhe ofereci como recompensa das notas finais do 4° ano – ou não comparticipe no pagamento da conta no final de cada mês.
Não, nunca tratei mal a minha filha, nunca fui agressivo, muito menos lhe bati. Nem uma palmadita nas mãos. Sinto por ela um amor infinito.
É uma história longa que, entre muitas outras coisas, mete uma queixa por violência doméstica verbal que não passa de um amontoado de mentiras. Um relatório pago a uma psicóloga – que nunca olhou nos meus olhos – contra quem corre agora um processo disciplinar na respectiva ordem profissional.
Foi tudo feito, como manda a cartilha, mas que um dia se vai provar que não passa de um processo de intenções contra um pai com o único objectivo de o afastar da sua filha que tanto ama.
Por quem daria a vida sem pensar um milésimo de segundo.
Mas não escrevo para que pensem que sou uma vítima. Não, nada disso. A única vítima é apenas e só a minha filha.
Muito menos porque deseje qualquer mal à mãe da minha filha, bem pelo contrário, desejo-lhe o melhor do mundo porque sempre entendi e continuo a defender que um filho precisa de crescer e ser educado pelos seus pais, por ambos, mãe e pai.
Basta àqueles filhos que, por infelicidade da vida, perderam a mãe ou o pai, ou em casos dramáticos ficaram sem ambos.
Escrevo ainda quando a minha caminhada que vai longa ainda não terminou.
Não posso terminar sem agradecer do fundo do coração aos meus pais, aos meus amigos e colaboradores mais próximos a ajuda e todo o apoio, cada um à sua maneira, me têm dado na caminhada mais difícil da minha vida.
Estarei eternamente grato a todos, sem vós este percurso tinha sido muito, mas muito mais difícil.
Continuo a contar convosco. Sabeis que também podereis contar sempre comigo.
Já tive uma filha. A mais lida do mundo. Plantei várias árvores. Falta-me escrever um livro.
Prometo, se a vida assim me permitir e se a minha filha concordar, um dia escreverei um livro com a nossa história.
Filha, perdoa-me se tive alguma falha.
Filha, um dia vais conhecer a verdade e perceber que existe um outro lado da história.
Filha , um dia vamo-nos reencontrar e sermos ainda muito felizes.
Amo-te minha Filha linda, muito, um Amor puro e infinito como muitas são as saudades, saudades sem fim.
Estás todos dias presente no meu coração. Tem uma noite tranquila. Ate já, meu Amor!
Gestor de Empresas / Licenciado em Ciências Sociais – área de Sociologia
(Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico)