No dia 27 de Dezembro partilhei nas redes sociais um artigo da jornalista Margarida Gomes do Público. Considerei-o então, e continuo a considerar, “um excelente artigo da jornalista Margarida Gomes no Público. O que é relatado é de uma gravidade extrema (envolvimento de familiares, amigos políticos, má gestão dos dinheiros públicos, etc.), exigindo um esclarecimento cabal por parte do Presidente da Câmara Municipal de Gaia“.
Na altura, fui muito criticado por amigos, virtuais e reais, que muito respeito pela forma leal com que debatem e apresentam argumentos. Diziam-me que o artigo em causa era “mentiroso”, estava ao serviço de uma qualquer “estratégia política”, era uma “encomenda”, etc. Respondi que não me parecia nada disso e acrescentei que os artigos de investigação deveriam ser exatamente assim, isto é, deveriam introduzir um assunto, apresentar factos, fazer perguntas, dar a voz aos visados, etc.
Hoje (6de Janeiro de 2017), o mesmo jornal publica, sobre o assunto, um novo artigo da já referida jornalista (Margarida Gomes). Mais uma vez, é um artigo sério que responde às dúvidas que entretanto vieram a público, esclarece factos e, de novo, faz perguntas. Não é assim que deve fazer o jornalismo de investigação?
Acresce que o Diretor do Público, o jornalista David Dinis, partilha o artigo com o seguinte texto:
“Há uma coisa que vos posso garantir. Os jornalistas do Público não têm medo de ninguém. Oxalá as pessoas que atacam jornalistas do Público – sem dar a cara – não tenham medo da verdade. Esta notícia é da Margarida Gomes“.
Isto significa que o Diretor do Público viu os documentos que a jornalista tem na sua posse e validou a forma como foi escrito e o respetivo conteúdo. Isso é muito relevante.
Da minha parte reafirmo. Em democracia e liberdade o escrutínio é essencial e exige-se que todos questionem os agentes políticos sobre tudo o que consideram errado. Todos os eleitos têm obrigação de esclarecer, de forma clara e cabal, aquilo a que forem chamados a esclarecer.
Nos tempos em que vivemos, observando o desânimo dos cidadãos relativamente a sucessivas notícias de abuso, má gestão, favorecimento, delapidação do interesse público, etc., é essencial que os agentes públicos sejam exemplo de conduta e esclareçam de forma cabal todas as suas ações. A consequência de tudo isto é o desespero que conduz, como temos assistido, a escolhas populistas, baseadas numa reação imediata e irrefletida aos sucessivos casos de má gestão e abuso, mas também à perceção – que é cada vez mais evidente na sua mente – de que a política serve para alimentar interesses de pequenos grupos e nunca para o objetivo maior de servir as populações, resolver os seus problemas com políticas coerente e pensadas a médio e longo-prazo e contribuir para mudar o mundo. Ora essa perceção é muito perigosa e conduz, geralmente, a períodos menos esclarecidos onde a democracia e a liberdade são colocadas em causa.